quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Por Wilson Alves

FERRAMENTAS DO COMPUTADOR COMO MEDIÁTICOS PEDAGÓGICOS


Pensar nos aplicativos do computador como instrumentos pedagógicos requer certo desprendimento crítico por parte da instituição escolar. Não importa enchermos o laboratório de informática com dez, vinte ou trinta alunos quando não temos claramente definidos os fins. Persuadi-los de que precisam estar abertos a experiências tecnológicas não é o suficiente, como também não é suficiente entender um editor de texto ou uma rede de informações hiperligadas na web senão temos um constante crítico e reflexivo sobre essas ações.
Na era das enciclopédias de papel o aluno, “guiado” pelo professor executava a tarefa de pesquisas com o intuito de desvendar determinada temática. Nesse caso, esse aluno já transitava por hiperlinks em função da adjetividade das palavras pesquisadas, isso implica que não é algo absolutamente inédito ter às mãos uma gama de informações áridas e soltas, ainda que essas palavras tivessem sentido semântico justificáveis. No caso dos textos conexos que a internet oferece, facilita esse processo dado a sua velocidade e dimensão. Porém, na mesma medida que oferece largas dimensões, maiores também são as chances de nos perdermos em textos difusos dos objetivos propostos. A questão é: de que importa tudo isso quando o professor não disponibiliza um planejamento longitudinal para que o aprendiz estabeleça conexões lógicas e abstratas sobre o assunto tratado? Ora, a educação que se espera para o século XXI consiste num processo de formação que garanta competências que vão além da simples pesquisa. Mais do que conhecer os recursos wikipedianos, é necessário pensar o quê se lê; formar uma consciência de mundo. Não restam dúvidas de que o processo é facilitado por meio dos recursos disponíveis no computador, mas não mudará os velhos paradigmas se o professor não mudar os elos de simples memorização a despeito do que outros pensaram ou disseram. A competência que se espera com o auxílio do computador é que este diminua o trabalho secundário de manusear textos, para que dessa forma se tenha mais tempo de mobilizar recursos cognitivos para criar alternativas de resoluções de situações-problemas.
Olhando o contexto por uma ótica diferente, é afirmar que o principal objetivo do professor ao trabalhar com os seus alunos no laboratório não é ensinar-lhes manusear os recursos dos programas. Isso os próprios programas já o fazem. Ademais, num breve futuro farão ainda mais, como por exemplo, traduções em tempo real nos sites de relacionamento e programas de conversação, uma das poucas fronteiras com limites internacionais. O que programas de informática nunca farão é pensar criticamente e decidir pela pessoa. É aí que está a grande oportunidade de desenvolvimento epistemológico do educando que pode e deve ser tratado, cuidado, intermediado pelo professor, ainda que seja simplesmente em um único ponto de vista, lembrando que um ponto de vista é apenas a vista de alguém do ponto onde esse alguém se encontra, nesse caso, o professor. Quando a escola é voltada para uma pedagogia de formação contínua, tende a entender as tecnologias como adequada para essa visão formativa porque passa a idéia de modernidade e atualidade; de constância e assimetria na aquisição dos saberes. E de fato o é, mas uma formação contínua, entre outras coisas, não restringe apenas em equipar escolas com internet de alta velocidade. Internet na educação é, antes de tudo, requisito para que no oceano de suas possibilidades, ambientes de discussões onde ética e valores, sejam promovidas; lugar que por possibilidades de interação, vá além dos muros da escola; lugar onde o espírito de solidariedade e companheirismo se estabeleça. Há no Brasil uma lacuna muito grande a ser preenchida no que diz respeito à reflexões acerca dos conteúdos programáticos para a educação básica que imprima uma personalização e que corresponda às necessidades precípuas de cada unidade escolar. Numa perspectiva vertical, é imposta a necessidade de sequências curriculares cuja história tem demonstrado que currículo escolar embasado em sequências curriculares nem sempre seguem na mesma direção das necessidades que a vida impõe: Imposições do mundo do trabalho; imposições de equilíbrio na afetividade; imposições por vezes abrupta, como por exemplo, o aprendizado que temos que ter para lidar com as perdas, com os limites do amor e, sobretudo, com os valores que regulam as relações sociais.
Enfim, espera-se que das ferramentas do computador das quais a escola dispõe, não convertam em pressupostos inconscientes (ou conscientes) para fazer de novo, o velho; Que não sirvam de meio maniqueísta para verter absolutismos que sufocam a capacidade de fruição de competências do e no aluno. O professor em meio a toda essa negociação entre tecnologias e didática não deve se sentir inerte e espectro dos saberes, ao contrário, é ele o grande provedor da sinergia que pode ser criada sob as bases da World Wide Web, relacionando e regulando situações de aprendizado.
Lembre-se professor, você pode estar em um laboratório de informática e não ser PHD em telemática (algumas organizações usam essa nomenclatura) pode ainda, não ser exímio como os seus alunos em uso do Blog e do Twitter, mas você é mestre em associar um mero substantivo feminino tal como “casa” à família, lar e paz. Não especificamente em uma ordem do estudo das mudanças ou translações sofridas no tempo e no espaço pela significação semasiológica das palavras, mas numa ordem existencial e de significado singular às ansiedades do seu aluno.



Wilson Barbosa


- Filósofo Clínico 
- Especialista em Tecnologias na Educação

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