segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Por Wilson Barbosa


FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

PARTE II

Caros Leitores, esse texto é um artigo de opinião, uma adaptação de postagem em fórum do curso de extensão em Educação Inclusiva na modalidade EAD, oferecido pelo IFB- Instituto Federal de Brasília. Dado a importância e relevância social do tema, julgamos pertinente levá-lo aos leitores do Blog como produto de reflexão e debate com vistas a colaborar à ampla divulgação das complexidades e acertos relativos à Educação Especial. Com exceção de Emmanoel Kant, os autores e respectivas bibliografias foram disponibilizados na plataforma de ensino do curso.
O Autor.

A Doutora em Educação e professora da Unicamp, Maria Teresa Eglér Mantoan[1],  no Artigo O Direito à Diferença nas EscolasQuestões sobre a Inclusão Escolar de Pessoas Com e Sem Deficiências, traz à contextualização algumas propostas que fazem inferências às discussões que centram nos princípios da Educação Inclusiva. Ou seja, nos gonzos do entendimento epistemológico do que são Diferenças.

Está aí o principal desafio, uma vez que mesmo entre diversos articuladores que estudam o dilema das Diferenças não há consenso quanto ao entendimento do que é a própria Diferença em si. Um exemplo do não consenso é a diversidade de opiniões quando o assunto é oferecer ou não cotas para negros nas universidades públicas, ou ainda, a mais recente polêmica – algo que estava em discussão há treze anos no senado: a reserva de 50% das vagas em Universidades e IFs para alunos que fizeram todo o ensino médio em escola pública. Quanto à conceituação das Diferenças não há grandes problemas, mas há grandes divergências de opiniões, erros de conceituação e muita ambigüidade nas discussões, quanto à aplicabilidade das medidas.

A bem da verdade, ações educativas tem sido mais evidenciadas nos últimos anos, mas na mesma velocidade, vem sendo plasmado um projeto assistencialista às Diferenças, o que gera riscos graves, uma vez que a Diferença torna-se objeto de separação daquilo que sou, para o outro. Em outras palavras, para aquele que precisa ser e não consegue.

De um modo ou de outro, seja em que palavras forem, a segregação oculta (semelhante ao currículo oculto) se faz presente. Ao olhar a problemática de modo frio e a certa distância, tomamos consciência de que o currículo e o planejamento não podem negligenciar a existência de uma contradição dentro do processo da Educação Formativa. Os problemas são tão graves que a proposta de Educação Formativa alcança e infiltra no problema da contradição e segue até a ineficácia do currículo do ensino fundamental e principalmente do ensino médio-enciclopédico, o qual é constituído de um amontoado de disciplinas desconexas e totalmente aquém das necessidades de formação humana há muito tempo desejado.

Honestamente, até que ponto há verdadeira identidade para o ensino médio do Brasil? Note que não é necessariamente algo relativo às Diretrizes Pedagógicas para essa etapa de ensino como mencionado no artigo “Para Contrariar as Bases do Otimismo” publicado recentemente, ainda em Maio deste ano. Naquele texto, a referência era quanto as Diretrizes do ensino médio no intuito de clarificar se os objetivos propedêuticos asseguravam meios para prosseguir no trabalho ou não, em contraposição a educação estritamente profissionalizante que se propõe a verdadeiramente inserir a pessoa no mercado de trabalho.

Do mesmo modo que não há identidade curricular coerente para o ensino médio, assim também, em matéria de inclusão, a escola não pode tomar a Diferença e Identidade como um fato curricular já resolvido, nem agora e nem em um futuro breve.

É preciso entender que esse fenômeno, exatamente por ser um fenômeno, constitui um paradigma existencial que permeia toda a sociedade e é constituída de uma estrutura móvel de acordo com o entendimento de mundo e de épocas diferentes. Há avanços, mas há muito ainda a ser aprendido sobre a Identidade e a Diferença.

Em Mara Lúcia Sartoretto[2], com o texto Os Fundamentos da Educação Inclusiva, a pergunta que se faz é quanto ao que legitima o direito de todos a freqüentarem a escola comum. Sendo redundante, a minha resposta é que esse direito tem sua gênese nas Leis de Deus. Explicando, temos que a princípio a Constituição Federal tem seu embasamento legislador em propriedades pós-positivismo, balizando conceitos e normas com contornos à primazia do Direito, que por sua vez, no pós-positivismo e fundamentação filosófica acunhado no neoliberalismo, procura uma reaproximação com a Ética, procurando, nessa linha, consagrar a supremacia dos direitos fundamentais do homem, tendo por ideal teórico a dignidade da pessoa humana. A Ética enquanto Ética, por sua vez, dá luz a um processo inato que germina a Experiência Ética, a qual se produz no reconhecimento da Lei e provoca um para-além-da-lei, em uma perspectiva psicanalítica.  

Por fim, essa Experiência Ética tem sua fundamentação e regulação nas Leis da Consciência, nosso mais sublime legislador. A Consciência, proponente do conhecimento do Bem, do Belo e da Verdade, forja, via inspiração, essa busca última do homem, pois, o homem, é criação legítima à imagem e semelhança de Deus, origem de tudo e conhecedor da nossa propensão, quase sempre desarrazoáveis, exceto em nossa essência inconsciente. Essa é a gênese. O que vem após isso são apenas frutos da res cogitans (substância que pensa) e dos signos, como já exposto nesse e em outros artigos. Um enigma para os céticos e pragmáticos radicais.

Talvez a mais importante afirmação desse texto venha a seguir: esse é o meu entendimento da verdade, não a verdade, necessariamente. Ademais, entendo que é assim, porque diante da limitação na perspectiva da razão kantiana frente ao transcendente, ao homem é facultado penetrar lampejos da verdade, faltando sua completude e finitude em qualquer contexto e tipos de linguagem: livro, artigo, abstração na arte e na estética, na poesia, na musica. Enfim, é tudo humano, meramente humano.

A idéia de que o direito à escola tem ascendência na Consciência Ética, não anula a necessidade de discussões com ascendências jurídicas e legais. Em outras palavras, essas idéias não são excludentes entre si. Complementam-se.  

Na acepção psicológica, a discussão toma direções que fogem da regra da lógica e se junta a subjetividade da natureza humana. Isso ocorre porque entra no jogo lingüístico o significado de limites do conhecimento, problema bastante exaurido na Crítica da Razão Pura, memorável obra filosófica de Emmanoel Kant. Os limites do conhecimento e o modo como conhecemos as coisas, vem sendo objeto de discussões nas mais prestigiadas Universidades do mundo e não cessará, haja vista que exercer uma epistemologia sobre “como conhecemos as coisas” é voltarmos a nós mesmos e ao outro de modo atemporal. Logo, não é uma discussão do passado e nem do futuro, ela simplesmente é; ela está; ela se faz presente em todos os momentos da existência.

No texto de pesquisa bibliográfica para embasamento desse artigo, a abordagem de que nas Diferenças há a possibilidade do aprendizado, marca e certifica o direito de que as crianças com Diferenças possam estar na sala de aula convencional. Convencional no sentido de como a conhecemos. Um ponto interessante é que o estudo do problema sob o ponto de vista da subjetividade, como mencionado acima, Diversidade torna-se também um meio de estímulo ao aluno, a qualquer aluno, para chegar ao conhecimento.

Mesmo crianças portadoras de Necessidades Especiais não são diferentes quanto a terem uma autonomia do exercício da sua epistemologia sobre as coisas e sobre o mundo, entendendo com isso, que elas terão seu próprio modo de aprender e apreender as coisas, porque como articula René Descartes, o espírito é mais fácil de conhecer do que o corpo.

Basta o entendimento do termo heterogeneidade em seu sentido geral, para fundamentar os direitos daqueles que por uma razão ou outra são Diferentes, bem como o de poderem freqüentar uma escola comum, porque é nesse meio heterogêneo que pulsa os porquês da vida, os quais propiciam respostas que por sua vez conduz a novas premissas e, para esse ciclo tautológico, não há Diferenças que impeça a caminhar em direção ao Bem, o Belo e a Verdade. É nessa direção que a escola deve atentar, avançar e preparar seus professores, a saber, levá-los à percepção ao que transcende as questões de direitos, concentrando-se no que são possibilidades e competências.

Ainda no tema, um aspecto pouco discutido, encontrou acolhida no artigo da Revista Inclusão[3] - Revista da Educação Especial, artigo da edição de Outubro de 2005 do autor Romeu Kazumi Sassaki. No artigo, foi defendido com muita propriedade o fato de que a Inclusão não é somente para os alunos com deficiência, mas para todos os alunos, educadores, pais e membros da comunidade. Porque ao falarmos em Inclusão/Exclusão, facilmente somos convidados a pensar nas crianças com algum tipo de NE. Raramente se discute o problema da Inclusão abordando outros elementos, algo que provoca a pulsão da segregação.

O artigo aponta para a necessidade de romper com padrões de divisão, inclusive nas nomenclaturas. NE sugere especialidade por parte do professor; sugere estagnar a atenção em um estado momentâneo em separado dos demais, quando talvez o foco devesse ser na resolução de situações-problemas da sala de aula e não em alguns alunos. É sabido que a discussão é ampla e não se esgota em um artigo, mas é sabido também que quando se separa, se coloca um em patamar diferente do outro.

Tratar Diferenças e Igualdade só é possível quando sairmos da zona de conforto de entender o aparente real (o que está diante dos olhos) tomado por verdade absoluta e então abrirmos às possibilidades (subjetividade) como pré-requisito da nossa práxis pedagógica.

E você, caminha em direção ao Bem, ao Belo e a Verdade?

Fique bem e boa direção existencial!

Wilson Barbosa

- Filósofo Clínico e

- Técnico em Assuntos Educacionais

- IFTO – Instituto Federal do Tocantins

Campus Porto Nacional.



[1] MANTOAN, Maria Teresa Égler. O direito à diferença nas escolas – questões sobre a inclusão escolar de pessoas com e sem deficiência.  Disponível em: http://www.todosnos.unicamp.br:8080/lab/links-uteis/acessibilidade-e-inclusao/textos/o-direito-a-diferenca-nas-escolas-2013-questoes-sobre-a-inclusao-escolar-de-pessoas-com-e-sem-deficiencias/
[2] SARTORETTO, Mara Lúcia. Os fundamentos da educação inclusiva.
Disponível em: http://assistiva.com.br/Educa%C3%A7%C3%A3o_Inclusiva.pdf
[3] SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: o paradigma do século XXI. Inclusão - Revista Educação Especial. Out.2005. p. 19 – 23.  Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/revistainclusao1.pdf

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Por Wilson Barbosa


FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

PARTE I
Caros Leitores, esse texto é um artigo de opinião, uma adaptação de postagem em fórum do curso de extensão em Educação Inclusiva na modalidade EAD, oferecido pelo IFB- Instituto Federal de Brasília. Dado à importância e relevância social do tema, julgamos pertinente levá-lo aos leitores do Blog como produto de reflexão e debate com vistas a colaborar à ampla divulgação das complexidades e acertos relativos à Educação Especial. Com exceção de Ludwig Wittgenstein, os autores e respectivas bibliografias foram disponibilizados na plataforma de ensino do curso.

O Autor.

Entre as referências que fazem menção direta ou indireta a Educação Inclusiva, destaco o artigo “Alteridade”, brilhantemente explanado por Frei Betto[1]. Em se tratando de Alteridade, em sentido amplo, é o ato de colocar-se no lugar do outro considerando todas as delimitações e limitações daquele a que recebo em minha percepção de mundo com atenção e respeito. Na prática, o exercício da Alteridade em sua essência demanda muito esforço e desprendimento, um constante exercício intelectivo.

Não obstante, a observação feita pelo autor ao mencionar em seu artigo o Q.E, (Quociente Emocional) como instrumento de avaliação e conhecimento do modo de funcionamento da Estrutura de Pensamento da pessoa, retrata a delicadeza, importância e a necessidade da construção do processo da Alteridade.

Em Dezembro de 2010 publiquei um artigo no Blog intitulado “A Relação Interpessoal na EAD” onde há uma explanação mais aprofundada do conceito e dos movimentos implícitos na Alteridade. Por também ser menção direta ao conceito, proponho ao leitor uma nova visita a este artigo.

Nas palavras de Frei Betto,  Alteridade é a possibilidade de sermos capazes de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua Diferença. Assim, quando conseguimos romper as fronteiras do eu permitindo a abertura de um espaço ao outro, torna-se mais fácil, especificamente em educação, romper com a estrutura colonialista da supremacia educacional que forja a exclusividade do saber centrada no professor. De outro lado, rompe com pré-conceitos ultrapassados de que trabalhadores das áreas conhecidas por não eruditas (informais) nada têm a ensinar àqueles que foram privilegiados com estudos diplomados (formais).

 No artigo de Tomaz Tadeu da Silva[2] A Produção Social da Identidade e da Diferença, traz um conteúdo sapiente ao demonstrar que Diferença e Identidade, na perspectiva adotada no exercício da linguagem, simplesmente existem e co-existem em mútua dependência: afirmativas x negativas.

Talvez a problemática que possa surgir do processo lingüístico que sustenta o sentido dessas palavras de Tomaz Tadeu, esteja linkado à concepção da idéia de meio social na qual elas são expressas, derivando, portanto, do modo cultural de um povo. Nessa discussão, Tadeu cita o autor Jacques Derrida, filósofo francês, o qual propõe em termos de entendimento que a linguagem humana, vacila.

Compreendida a idéia de entendimento da linguagem em Derrida, convém também mencionar Wittgenstein, filósofo austríaco, autoridade em linguagem e protagonizador da mudança radical na lingüística da Filosofia do século XX. Wittgenstein demonstra que os signos de modo geral, flutuam sob um processo de abstração, assim, a linguagem tem presente em todos os seus momentos a sua inefabilidade semântica. Por isso a promessa da presença é parte integrante da idéia de signo.

Na prática, toda essa discussão teórica leva a um ponto prático muito importante. Através da Identidade x Diferença, delimita-se territórios, criam fronteiras, aceita e separa situações e/ou pessoas, cristalizam verdades e excluem outras. Embora todo esse processo esteja constantemente em devir- vir a ser, o que sugere instabilidade e mutação, faz também com que o processo se auto renove infinitamente e se auto prevaleça enquanto mecanismo de equilíbrio nas relações sociais, muito embora se torne paralelamente, um mecanismo indubitavelmente temeroso, se considerado a força de segregação em potencial, mesmo que seja uma segregação embutida em elementos periféricos, incompreensíveis e, às vezes, subliminares.

Na pedagogia, a problemática da Identidade e Diferença pode remeter a um fenômeno já conhecido, mas, embora conhecido, é constituído de várias facetas: a principal delas é a Pedagogia Oculta, pois, é precipuamente no espaço escolar em que as crianças e jovens tomam contato com as Diferenças e as Identidades. Por um lado, há um estímulo a que essas crianças entendam e aceitem o diferente, e por outro lado, há um mecanismo de segregação. Vejamos um exemplo: quando a criança não mantém um comportamento padrão em sala de aula; quando a criança aos olhos do professorado é um aluno indisciplinado, implica como resultado que ao mesmo tempo em que essa criança é estimulada a aceitar a Diferença; a própria Diferença nela apresentada (comportamental) não é aceita pelo professor. Há aí um paradoxo conceitual e prático que, a meu ver, deve tornar-se objeto de discussão entre pedagogos a fim de que se encontre um meio termo. Se precisar, releia o exemplo e fomente uma crítica conceitual sob a situação.

Dado à complexidade e extensão para exprimir as idéias com o mínimo necessário de fundamentação teórica, haverá, excepcionalmente para esse tema, uma sequência com post ainda este mês.

E você, tem rompido fronteiras e pré-conceitos ultrapassados?

Por hora vou até aqui. Até a próxima!

 Wilson Barbosa

-Filósofo Clínico

-Técnico em Assuntos Educacionais

 IFTO – Instituto Federal do Tocantins

 Campus Porto Nacional.



[1] BETTO, Frei. Alteridade. Disponível em: http://www.adital.com.br/site/noticia2.asp?lang=PT&cod=7063
[2] SILVA, Tomaz Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença. Disponível em: http://ccs.ufpel.edu.br/wp/wp-content/uploads/2011/07/a-producao-social-da-identidade-e-da-diferenca.pdf
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