quarta-feira, 2 de maio de 2012

Por Wilson Barbosa


1º DE MAIO
PARA CONTRARIAR AS BASES DO OTIMISMO


Brasil, país que exibe ao mundo a tomada da sexta economia na escala global, mas que exibe também uma posição expressiva no ranking de descaso do principal “patrimônio imaterial” de qualquer das nações. A educação.
Forjando-a aos guetos do obscurantismo intelectual e consolidando uma estrutura para transeuntes em direção à miséria social por falta de ações efetivas, o desenvolvimento educacional brasileiro caminha aquém em termos de investimento do PIB quando comparado a vários países da América Latina, influenciando decisões políticas, sociais, profissionais e demais esferas que juntas, alicerçam um país.
Em Brasília, imperativo e suntuoso, o símbolo ‘cego’ do Direito ornamenta a entrada do STF, ao passo em que a representatividade de sua pretensa isonomia dá conta do contrário. Os números incontáveis de processos que deveriam protagonizar agilidade se arrastam por anos e, em alguns casos, durante toda uma vida. O respeito à rés–pública vai à contramão do ideal de Justiça Cega.
Com um sistema arcaico, precipitando à falência e inconciliável com a realidade e as necessidades urgentes de toda a sociedade, o judiciário brasileiro não consegue dar conta nem da demanda de trabalho que lhe é atribuída, nem prima pela justiça como deveria, tendo por base o palco político em que assistimos o teatro da mentira e da corrupção a toda hora. Por meio de brechas constitucionais, caras empresas advocatícias são contratadas arrolando sentenças e juízos de toda ordem. Das locuções dos magistrados brasileiros é percebido o descaso generalizado em face de amontoarem processos que deveriam ser prioritárias para o país. Será que algum leitor tem dúvidas a respeito dos resultados dos despachos morosos ou tendenciosos no senado brasileiro? A maioria das PLs em instância de aprovação dá prova da investida dessa projeção!
Educação
Ao olhar o desenvolvimento da história da educação brasileira, desde o início da república, há um retrocesso na formação crítico-social dos educandos. Enquanto filósofo e educador, pode parecer mesmice dizer que a educação vai mal, porque o governo não quer gente que fale, critique e se expresse, portanto, sendo apenas pragmático no raciocínio, chegamos à mesma expressão, via matemática simbólica. Em proporção, temos hoje um maior número de pessoas ignorantes do que início da república, se considerar que há duas (eu disse duas) vezes mais pessoas privadas de saber ler do que no ano da Proclamação[1]. Nossas Universidades, em quase todos os Estados da Federação são sucateadas. As federais, além de mal equipadas, carecem de reestruturação desde equipamentos técnicos e tecnológicos até material humano, patrimônio imprescindível para reverter o quadro precário na produção científica, por exemplo. As Universidades não têm amparo econômico condizente com as necessidades, inviabilizando a pesquisa e a extensão. Desse jeito, não tem sentido de ser.
Nessa mesma linha, pondera-se a equação da formação profissional em áreas tais como as das engenharias, da contabilidade, da biologia, outras. Sem contar com a falta de poder de reação dos sindicatos representativos de classe, frente às necessidades gerais e imediatas as quais urge serem enfrentadas, debatidas e priorizadas conforme demanda, a fim de alcançar conquistas justas para o setor, bem como corroborar de modo efetivo para o desenvolvimento de planos de carreiras afinados às necessidades, além de perspectivas objetivas de desenvolvimento profissional para técnicos educacionais e professores. Essa é uma das urgências dentre outras.
Ainda em Educação, para não atermos apenas na questão das políticas educacionais, toda a comunidade acadêmica desde técnicos a docentes, em 2012 acumula defasagem salarial de anos, além da falta de reposição às perdas inflacionárias de 2011 e 2010, as quais pesaram tanto sob a remuneração do trabalhador da educação em todas as instâncias: federal, estadual e municipal, que literalmente suprimiu o poder de compra desses trabalhadores.
Medidas Profiláticas 
Relativo aos modernos Institutos Federais de Ciência e Tecnologia que se faz guia de esperança para um novo fôlego da educação profissional, de modo particular no âmbito do Ensino Médio, o qual por décadas foi gargalo de problemas consoante as diretrizes básicas para essa etapa de ensino, uma vez que o jovem egresso do antigo ensino de segundo grau nem obtinha formação técnica de qualidade nos moldes de cursos que pretensamente atrelava educação geral com educação profissionalizante, tampouco recebia formação geral que verdadeiramente preparava para avanços no ensino superior, e mais, sofrendo ainda com redução da carga horária em disciplinas fundamentais.
Hoje o cenário é outro, porque há distinção das diretrizes próprias da formação geral e diretrizes objetivas da formação técnica-profissionalizante, o que expressa avanços para ambas. Todavia, o governo federal ainda não se deu conta que para a tríade do processo - Formação X Educador X Aluno, a necessidade de investimento em termos técnicos e salariais é tão importante quanto qualquer outra medida acauteladora a fim de assegurar o desenvolvimento sócio-econômico do país.
Especificamente em 2012, diga-se ao público leigo, não houve espaço para negociação com o funcionalismo público federal vinculado a educação, reservando para o problema, não mais do que discussões vazias e protelatórias, sujeitando os profissionais a recorrerem à única alternativa possível prevista em Lei, o direito de deflagração de greve.
Com respeito ao princípio da publicidade, importa registrar que a título de exemplo, o Técnico Administrativo em Educação, tem hoje, o menor subsídio quando comparado com Técnicos vinculados a outros Poderes.
Revestido de critérios legais, porém em desarmonia e desacordo com a implementação da isonomia prevista constitucionalmente no § 4º do Artigo 40 da Lei 8112/90, a qual regulamenta direitos e deveres do servidor público federal, o governo protela as negociações e não cumpre acordos já traçados e acordados anteriormente. Quanto a Lei, ressalta-se: “é assegurada a isonomia de vencimentos para cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder, ou entre servidores dos três Poderes, ressalvadas as vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou ao local de trabalho”. Se existem proventos diferenciados, excluindo as de caráter pessoal ou de local de trabalho, contrapõe nitidamente a ideia de isonomia, sem outras interpretações.
Realidade
A sexta economia do mundo tem atraído imigrantes das mais diversas partes do mundo devido ao crescimento da economia, algo que é motivo de louvor, contudo, a sexta economia do mundo não cumpre com o dever de casa quando o assunto é educação, não proporcionando investimentos que façam jus para manter nos anos vindouros o mesmo crescimento econômico.
No Brasil, no interior das escolas públicas dos Estados e Municípios, professores são agredidos dentro da sala de aula de norte a sul, fato absurdo e inadmissível. Fica a pergunta para outra reflexão: esse é o caminho proposto para o entendimento do que se espera por emancipação do indivíduo? Certamente que não. Isso somado a desvalorização do profissional, ocasiona o abandono da profissão, agravando a situação. Prova disso é a falta de professores de biologia e matemática, objeto de preocupação constante do MEC.
Não há a pretensão de defender intrinsecamente no texto um projeto pedagógico nos moldes da educação tradicional, crítica, libertadora ou qualquer outra postura pedagógica já registrada em enciclopédias de papel ou digital, como nas Wikis contemporâneas, mas é preciso discutir o contexto em que a educação vem caminhando a muito tempo, instigando agora para o exílio em massa de professores para outras profissões e perpetuando a situação de abandono em que se encontram as escolas, generalizando o descaso e a desvalorização da comunidade escolar, sem mencionar, em particular, as carências latentes do ensino fundamental, patamar base para os demais níveis. 
Na prática, são LI (Laboratórios de Informática) usados como marketing de investimentos em educação, ao passo que governos estaduais, como é o caso do atual governo de Goiás, que toma do pouco salário do professor qualquer tipo de gratificação, não importando, em última análise, que ele deva qualificar-se para prestar um serviço decente para alunos e sociedade, tampouco respeita anos de trabalho que os profissionais tiveram para capacitarem, muitas vezes com recursos próprios em pós-graduação e cursos de aperfeiçoamento, a fim de tentarem garantir ensino de qualidade e por outro lado minimizar efeitos de uma aposentadoria precária.
Nossa história dá conta de que por falta de investimentos decentes em aperfeiçoamento e pesquisas acadêmicas, ficamos com o título de melhor futebol, melhor música sertaneja e o melhor samba - mas perdemos as melhores mentes pensantes para o resto do mundo. O resultado disso é o baixo número de pesquisadores, pouco investimento governamental nas próprias pesquisas científicas em si; falta de aporte de empresas parceiras que custeiem, patrocinem e fomentem pesquisas direcionadas no interior das universidades, evidenciando os motivos da baixa produção acadêmica em geral, explodindo no câncer do torpor e da inércia intelectual, resultando também na perda de patentes em potencial, que são trabalhadas, desenvolvidas e aproveitadas em outros países a partir do trabalho de pesquisadores brasileiros, ao contrário de exemplos como o que fica subentendido na fala que atribui-se a Golda Meir,  ex-primeira-ministra de Israel: “Felizmente, não temos petróleo, por isso somos obrigados a desenvolver nossa maior fonte de energia: o cérebro de nosso povo”².
Conviver com a desonestidade e com a corrupção tem sido um paralelo constante à sexta economia do mundo. Então indagamos: como compreender a sexta economia do mundo em pleno século XXI ainda ter cidades em que corre esgoto a céu aberto; como entender a sexta economia do mundo convivendo paralelamente com salários gigantescos no setor político em Brasília e ao mesmo tempo com a situação do trabalho escravo no interior do país? Não merece sorrisos também, saber que há um número enorme de ingressados na educação, mas que tendem a tornarem-se analfabeto-letrados que não se envolvem politicamente com a sua comunidade, sua cidade, seu país.  Se há dúvidas dessa afirmação, é preciso antes fazer entender os motivos da falta de compromisso do Estado democrático de direito com a formação sociológica da juventude que só a poucos anos conquistou o direito de pensar filosoficamente na escola, um tanto a contragosto de uma parcela resistente em incluir a Filosofia e a Sociologia como obrigatoriedade de oferta na educação pública brasileira.
Esse estancamento generalizado do desenvolvimento crítico e social presente na sexta economia do mundo, entremeado ao contexto do atual desenvolvimento econômico constitui paradoxos e incertezas.  Como conviver com tais realidades?
Para não finalizar e contrariando o otimismo, o Brasil já ao fim desse artigo de opinião, segundo previsão do FMI, deverá perder o posto de sexta economia mundial para o Reino Unido que pode chegar ao PIB de US$ 2, 452 trilhões ainda esse ano.
Nessa nossa data, um forte abraço a todas e todos os trabalhadores, 

Profº Wilson Barbosa
Técnico em Assuntos Educacionais
IFTO – Instituto Federal do Tocantins
Campus Porto Nacional.

[1]  disponível em www.cristovam.org
[2] BUARQUE, Cristovam. Revolução Republicana na Educação: Ensino de Qualidade para Todos Ed. Moderna, 2011. 142p.

Web Analytics