sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Por Wilson Alves



Esse texto compõe a Introdução do TCC apresentado pelo autor à Banca de Exame de Monografias da Especialização “Tecnologias na Educação” - PUC/RJ sob orientação da Profª Clarissa Fernandes do Rêgo Barros, cuja defesa oral aconteceu em 24 e 25 de Novembro do ano em curso, no auditório da Câmara Municipal Jayme Câmara de Goiânia. 
Em tempo oportuno o trabalho será apresentado na íntegra, cujo link estará disponível nesse Blog.
O Autor.
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A RELAÇÃO INTERPESSOAL NA EAD
 
A palavra alteridade, derivada do latim ‘Alter' - o esforço de se colocar no lugar do outro, constitui o princípio, a gênese do problema que será apresentado nesse TCC, de modo que o intuito é associar o conceito de alteridade ao caráter de planejamento de formação dos professores para o uso das mídias digitais, alterando dessa forma, possíveis estados emotivos tensos, em positivos.
Partindo dessa premissa, será construída com base nos pressupostos filosófico-clínico PACKTER (1997) uma proposta de trabalho que conduza a uma melhor articulação entre o professor e o aluno, no ambiente virtual. O problema da comunicação deficiente em ambiente EAD (Educação à distância) tem consequências graves, de modo particular, a possibilidade de evasão nos cursos em função de desmotivação, medo, fuga, perda de interesse, motivos os quais  interferem nas relações afetivas entre professores e alunos (XAVIER apud MORAN, 2005).
PACKTER (1997, p.45) no contexto da sua obra deixa implícito que toda relação humana, portanto, também a virtual, sugere a necessidade de uma aproximação do outro de modo mais próximo a compreendê-lo na sua singularidade, convergindo esforços em entender a forma genuína da pessoa em representar o mundo, as coisas, inclusive, o aprendizado e compreender também que toda pessoa possui uma epistemologia inata para lidar com o novo, nesse caso específico, com o aprendizado acadêmico via educação à distância. Assim, esse trabalho procura levantar uma revisão de literatura do que há escrito sobre os limites do aprendizado acadêmico nos ambientes virtuais e propõe colaborar na discussão do tema, de forma a incentivar novos estudos e futuras descobertas.
Considerando a grande expansão de cursos na modalidade de educação à distância no Brasil, desde cursos técnico-profissionalizantes, graduação e pós-graduação, torna-se necessário que seja feito uma abordagem bibliográfica voltada à coleta de dados e estudos da relação inter-pessoal dentro da EAD (Educação à distância), tendo em vista que uma relação fria e distante entre professor e aluno, pode acentuar as possibilidades de perda do conteúdo pedagógico como fruto do desinteresse causado pela apatia que se estabelece, quando não há proximidade efetiva entre as partes.
Nem todas as pessoas sentem que há uma relação segura, humana e próxima para cumprir com os objetivos pedagógicos propostos quando o único meio de comunicação é feita nos moldes da EAD (educação à distância), pois os recursos disponíveis para a troca de informações: e-mails, fóruns, gravação de áudio, links, bate-papo, podem, para algumas pessoas, passar a ideia de não envolvimento pessoal, de distância, que vai além da geográfica, como, por exemplo, relacionando a comunicação através desses recursos a problemas relacionados a atenção do professor, a diferenças de ideais e a problemas relacionados a afetação1. Os resultados diante dessas possibilidades é de que conteúdos importantes de um curso ou de uma disciplina, podem não ser assimilados a contento devido a interseção estabelecida ser frágil. Segundo PACKTER (2007, p.56) o problema da interseção negativa, entre outras possibilidades, pode ser decorrente de problemas epistemológicos, nesse sentido, um professor que sabe conhecer o estado epistemológico do seu aluno, terá muito a contribuir para a pedagogia2. Conforme a interseção estabelecida com o professor, o aluno da educação à distância pode aprender de forma mais fácil ou mais difícil. Quando há afinidades com o seu instrutor, quando a interseção é positiva, isto é, aquela que é subjetivamente boa a ambos, tende a se tornar mais fácil o aprendizado, por isso, essa interseção pode estar ligeiramente relacionada aos dados epistemológicos da pessoa, já que pode interferir diretamente no aprendizado. Essa afinidade é construída de acordo com a singularidade de cada um, sedimentando a relação afetiva que vai sendo experienciado ao longo do tempo de convivência.
A fim de desenvolvermos essas ideias minuciosamente, no primeiro capítulo “Alteridade, emoções e a relação Professor x Aluno”, como base teórica, será usada a fenomenologia como abordagem metodológica a qual norteará a pesquisa do trabalho alicerçado em um mecanismo de investigação que assegure descobertas de novos processos de relação nos ambientes virtuais, tendo por parâmetro as obras referenciadas, coadunando, dessa forma, quiçá, na colaboração para construir-se uma relação humanista na EAD, onde o humanismo significa, nesse contexto, uma aproximação que envolva o relacionamento afetivo e emocional como atividade-meio para se alcançar um fim último: a maturação do aluno frente aos desafios contemporâneos, entre eles, a formação ética; a construção da cidadania como um valor imprescindível que deve ser implícito em todo nível educacional; uma melhor relação no processo ensino x aprendizagem.
No segundo capítulo “Fortalecendo a relação professor x aluno no ambiente virtual”, o exercício da epistemologia na questão do aprendizado, a ênfase será sobre o modo como se deve respeitar o outro como ela de fato é, reafirmando a idéia contida no primeiro capítulo - a alteridade como um mecanismo para sedimentar a base do respeito ao próximo e, por consequência, alterando significativamente os dados epistemológicos da pessoa e interferindo na forma genuína de aprendizado do estudante da educação à distância, refletindo também, como já mencionado, na relação entre o professor e o aluno. Por fim, o texto voltar-se-á as ideias iniciais apresentadas no capítulo anterior, posicionando sobre as conclusões obtidas em torno das ideias principais, a saber, se as mesmas alteram para melhor os resultados da vivência do aluno no ambiente colaborativo de aprendizagem, demonstrada sob as bases de uma relação de respeito, ética e sensibilidade, chegando a um parecer final sobre as diferenças iminentes entre ensino presencial e ensino a distância, essa última, confirmando o seu caráter emancipatório e, posto em prática a visão humanista consagrada nesse TCC e articulada direta e indiretamente pelos autores de referência, aventar a possibilidade de instaurar uma comunicação bidirecional que conduza o processo ensino x aprendizagem a um dinamismo educacional atento as expectativas do país que se encontra em franco desenvolvimento.

Prof. Wilson Barbosa

- Filósofo Clínico 
- Especialista em Tecnologias na Educação

1 Afetação: ato ou efeito de afetar, fingimento, falta de naturalidade, presunção. Fonte: FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. 1838 p.
2 Epistemologia ou teoria do conhecimento (do grego "episteme" - ciência, conhecimento; "logos" - discurso), é um ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados à crença e ao conhecimento.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Por Wilson Alves, Especialista em Consultoria Acadêmica e Professor Formador no NTE-Anápolis-GO


Internet é lugar de Autoria ou Plágio?

Antes mesmo de adentrarmos na dialéctica de discussão sobre o plágio e a produção de autoria, publicada aos milhares na rede mundial, convém pensar o processo subjacente à primeira, as quais os originais estão postados em um ambiente de interatividade cuja performance oferece suporte de versatilidade (publicação de textos, imagens, sons, gráficos, etc.) que por sua vez, vem sendo largamente utilizado no início do século XXI, nunca antes visto na história, sendo que o mais próximo que havia a essa versatilidade eram os livros e as enciclopédias impressas que, por natureza, não permitiam a participação contígua do usuário, ficando este como mero receptador das informações com ou sem a semântica necessária às suas necessidades. Antes mesmo de aventurarmos em render louvores ao deus da revolução tecnológica, a internet, convém suscitar uma crítica contundente ao que subjaz a “liberdade” de criação na rede, ou ainda da facilidade de plágio do que ali se encontra. Dificilmente no âmbito da navegação, o internauta pára para questionar sob os interesses econômicos que há como pano de fundo atrás do universo de softwares que são oferecidos como mecanismos de inclusão e estratégia para que a “liberdade universal” não seja tolhida mesmo às sociedades menos prestigiadas. Esse é um primeiro ponto.
A ambigüidade que encontramos na internet, ao mesmo tempo revolucionária por oferecer um novo status para a produção textual, gráfico, visual, permitindo às pessoas serem autoras dos seus projetos, constitui, paralelamente a essa revolução, um mecanismo de contraproposta à uma pedagogia escolar e de vida progenitora do incrível poder de emancipar o indivíduo, porque para a grande maioria dos usuários, de modo especial para a maturação das crianças, o desenvolvimento pedagógico fica a cargo de uma pedagogia oculta (SILVA, 1992, p. 125) a serviço do desenvolvimento político-tecnológico, que atendendo aos interesses capitalistas surrupia do cidadão a criticidade expontânea redundando a pedagogia à técnica, como se o desenvolvimento estritamente técnico fosse o motriz do crescimento econômico do país, politicamente falando. A questão fundamental é saber separar o status de supremacia das tecnologias das necessidades emergentes do mundo real. É necessário perguntar a que serve a pedagogia moderna. Não nos espanta saber que atrás do mercado globalizado há uma super-estrutura dominante, regido e manipulado pelo neoliberalismo, segregaria das sociedades pobres e miseráveis. Ademais, para alimentar os interesses atrozes desse movimento demoníaco, é necessário que haja o sacrifício de inocentes a seu serviço. Na China, milhares de adolescentes e jovens adultos trabalham 15 horas por dia a 65 centavos por hora, proibidos de falar ou ouvir música, em condições terríveis nas fábricas, onde fabricam hardware da Microsoft que é exportado para os Estados Unidos, Europa e Japão. Assim relata o National Labor Committee, que lançou ao grande publico três anos de entrevistas e fotografias dentro de fabricas da China.1
Voltando a atenção para a questão do plágio e para a produção de autoria, partimos primeiramente do princípio da máxima de Heráclito “ninguém pode banhar-se duas vezes no mesmo rio”. Dessa máxima deriva pensar os limites das habilidades e competências implícitas na criação, reprodução e inserção/adaptação de idéias na Web. Por mais absurdo que possa parecer, quando a pessoa vai à rede, plagia e apresenta uma pseuda produção, entretanto, passando-a por genuína e “acabada”, apesar da fraude, houve na sua gênese uma construção real. Real no que diz respeito ao modo próprio de representação da sua Estrutura de Pensamento2. Há ai a semântica das ausências, das reticências, dos silêncios que exigem interpretação, dentro da regra que toda interpretação será, por sua vez, reinterpretada.
Autoria precisa ser visualizada em sua excelência e fragilidade: é excelente, no horizonte da vida como reconstrução a partir do sujeito que forja a autonomia possível e conduz seu destino relativamente; é frágil, nos horizontes das realidades descartáveis, incompletas, passageiras, pois toda autoria é feita a partir de outras, um remix. (Pedro Demo. Habilidades del siglo XXI, pág.08).
A genuinidade encontra-se exatamente no linear entre a cópia e a criação, entre o desejo e a farsa, entre o imagético e o criativo. Isso não implica afiançar a prática do plágio, mas dar luz à questão em sua vertente epistemológica, à sagacidade intencional que se bem entendido pode contribuir no processo autogênico da dialéctica dos contrários. Uma pedagogia que busca equacionar um substrato puro e significativo como referência para o desenvolvimento da autoria democrática que leve ao verdadeiro sentido de conquista da cidadania, precisa compreender os significantes e significados que permeiam as bases econômicas, psicológicas, tecnológicas e políticas de seu tempo. Nesse sentido, tópicos estruturais que alicerçam a sociologia de uma época passa por diversas etapas e se equilibra sob muitas variantes. Isso quer dizer que o que a determina hoje, como por exemplo,  valores, crenças, suas características deterministas, podem não o ser amanhã. As variáveis periféricas, frágeis, antagônicas e invisíveis, mas reais, podem juntas convergir em força suficiente para determinar as direções das ações, inclusive de mercado – o que faz crescer vertiginosamente o interesse capitalista a partir da disseminação das tecnologias, inclusive através de tecnologias na pedagogia.
Esses são princípios filosóficos que precisam ser refletidos anteriormente ao simplismo presente na definição meramente gramatical de plágio. A primazia da autoria, publicação e realização na rede se constitui exatamente na ambiguidade que pode ser exaurida da reflexão sob a máxima que norteou parte da dialéctica presente nesse texto “ninguém pode banhar-se duas vezes no mesmo rio”. Então, até que ponto pode se falar em autoria genuína por excelência? 
 
Prof. Wilson Barbosa

- Filósofo Clínico 
- Especialista em Tecnologias na Educação
1 Fonte da informação e foto: http://videogamebrasileiro.blogspot.com/2010/04/adolescentes-chineses-trabalham-como.html
2 Estrutura de Pensamento: tudo aquilo que está na pessoa; organização dos elementos que compõem e sustentam os modos de ser de uma pessoa (www.filosofiaclinica.com.br)
Nota: Este texto responde proposta de atividade da disciplina Projeto Pedagógico Utilizando Ferramentas de Autoria, Unidade 1 – Ferramentas de autoria: definição, particularidades e vantagens. 
Turma GO-01- Especialização: Tecnologias na Educaçã0- PUC-Rio,
2009-2010.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Por Wilson Alves

E A SUBJETIVIDADE DO ALUNO-PESSOA?

Se o leitor visitar os artigos anteriores, especialmente os que foram publicados no ano de 2008 e 2009 verá implícita uma ênfase dada a visão prospectiva na educação; a formação contínua do professor; a valorização da educação diagnóstica e formativa, entre outros. Com efeito, esses tópicos vêm sendo valorizados nesse Blog e na maioria dos textos escritos por especialistas que “pensam” a educação brasileira, inclusive com anuência da Legislação que foca essas premissas a partir da redemocratização do ensino proposto na LDB. A questão que pretendo abordar vai paradoxalmente, a primeira vista, na contramão do que vem sendo escrito nos últimos meses. Isso acontece porque o objetivo desse artigo é voltar a atenção à subjetividade da pessoa, à inércia equilibrada que faz bem ao espírito, ao platonismo no seu mais legítimo grau, quando trata da contemplação do belo, do bem, e da verdade. Do ócio hermeneuticamente trabalhado nos textos platônicos.
Na atualidade a palavra da vez é virtual – caminho que apresenta à educação brasileira um sinal, uma luz ao fim do túnel com propósito de recuperar séculos de atraso educacional e intelectual por meio da EAD. A bem da verdade, a presunção em formarmos indivíduos que atendam a demanda de um mercado globalizado precisa ser bem entendida para que não se coadune com objetivos puros e simplesmente maniqueístas do capitalismo implantado pelo neoliberalismo. Homens e mulheres que aspiram a uma sociedade igualitária, socialmente generosa e autônoma (e não autômata), mulheres e homens que vivam uma liberdade responsável, precisam entender que para a Gestão dessas ações de modo a serem eficazes e eficientes, há de ser provida por meio de um federalismo que assuma a responsabilidade sob uma formação profissional sustentável. Ademais, a educação que deve ser um todo integrado, há de cuidar em promover competências de decisão, a saber, que cuide de integrar o homem em seus aspectos físico, psíquico e social, e dessa forma, conjugar esforços para que a produção no trabalho contemple também uma visão planetária, a qual é possível somente através de uma visão holística de mundo, bem ao contrário da pseudo hegemonia social pregada deliberadamente pelo neoliberalismo que usa a via da economia como um de seus pressupostos.
O que pretendo acentuar são os riscos que há na velocidade extravagante que pode ser caracterizado no verbo abundante do particípio absorver. Entendendo por definição, algo que venho insistindo em vários dos meus artigos: a ausência da dialética e da alteridade no ato de receber pronto as informações e conhecimentos virtuais hipermidiados de maneira irrefletida, alienadora e segregária, elementos que estão no plano de fundo de uma política internacional massificadora que busca a dominação mundial através das políticas de educação. Todo esse processo contribui a que naturalmente construa-se e sentencia-se a nós cidadãos ética e valores virtuais, apenas. O nosso trabalho pedagógico na educação a distância não encerra apenas em escrever nos fóruns; em biblioteca-material do aluno ou no espaço reservado ao material do professor pequenos textos que atendam a meia dúzia de tutores ou mesmo a alguns professores conteudistas. Nosso dever ético é denunciar toda e qualquer possibilidade, por mínima que seja, em construir super-homens e super-mulheres tecnológicos, mas emocionalmente infelizes. A “ruptura” entre o lápis e o computador requer mais que simples treinamento em plataformas. Implica em criar indivíduos responsáveis mutuamente pelo desenvolvimento constituído sob as bases da equidade em direitos humanos bem como formar mentes pensantes e conjuntamente responsáveis pelo planeta; implica em tecer caminhos pedagógicos que contemplem a simplicidade e a tolerância no conviver com as diferenças. Fazer compreender quanto as diferenças, que elas não residem apenas nas pessoas portadoras de necessidades especiais, mas residem em mim e em você que tem manias e criamos outras novas. O que devemos combater com veemência é o risco de sermos íntimos com uma pessoa bem do nosso lado (virtualmente falando) logo ali, do outro lado do continente, sem se dar conta da realidade local onde a sua família, escola e amigos estão inseridos.
Observe a aparente contradição. O trabalho do autor que escreve esse artigo é exatamente trabalhar com a EAD, o que leva a fácil e rápida ideia de contra senso. Mas o suposto contra senso não existe se considerada a dimensão total do que discutimos – o verdadeiro sentido de formação integrada do indivíduo.
Nesse momento em que as merecidas férias de julho se aproxima, talvez seja um momento precioso para refletirmos o TÍTULO I : Da Educação, redigido na Lei 9.394 de 1996, quando diz:


Art. 1º. A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

Não farei maiores comentários a respeito do Artigo 1º da LDB, apenas deixarei registrado literalmente para que você estabeleça reflexões associando-o às dimensões da articulação possíveis com o que se discute a respeito de uma educação que fomenta as discussões contemporâneas: A aproximação da teoria com a prática.
Uma férias filosóficas para você.

Prof. Wilson Barbosa 


- Filósofo Clínico 
- Especialista em Tecnologias na Educação

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Por Wilson Alves

2011 A 2020
PNE – PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

E o Novo Olhar Sobre as Ações do Professor

Por Wilson Alves, Filósofo Clínico; Especialista em Tecnologias na Educação e Professor Formador do NTE-Anápolis.



Ao lançarmos os olhos sob a trajetória profissional do educador, seja ele legalmente investido pelo Estado, seja atuando na educação formal do setor privado, ou ainda, investido em tarefas da educação informal, apreciado os caminhos percorridos ao longo da sua carreira e refletindo sobre a sua responsabilidade de acompanhamento técnico, psicosocial, psicopedagógico e humanitário nas várias dimensões da vida do aluno, e ainda, observadas as condições mínimas com as quais este dispõe para prestar acompanhamento em direção aos pontos cegos da alma, maximiza a necessidade de fomentarmos ponderações acerca dos desdobramentos decorrentes desse processo de formação que, invariavelmente, nos instiga a profundas reflexões filosóficas ainda não exploradas em nossos artigos. Devido a objetivos e a própria natureza das ações pedagógicas inerentes ao ato de ser professor, tais ações se refletem sob um aspecto pouco discutido no meio acadêmico: o conceito de doença x cura sob a ótica da dialética, da maiêutica, da lógica aristotélica.
Caracterizado o problema, requer que elaboremos quase uma exegese sob esse fato que, em via de regra, gera consequências graves a inobservância da profilaxia existente em potencial, a qual deve ser adotada de forma transversalizada no contexto da sala de aula a fim de evitar problemas dos quais afetam gravemente a comunidade escolar e a comunidade em geral. Consoante à questão saúde-doença e, de modo particular os vivenciados na escola, encontramos manifestações sensoriais conhecidas por bowling, bulimia, anorexia, derivações das histerias, vários desdobramentos da depressão, síndromes das mais variadas.
Se partirmos da premissa que doente é todo aquele que precisa de cura; se entendermos que aquilo que não faz bem à pessoa, naturalmente encontra o caminho oposto, isto é, faz mal; se considerarmos que a partir do momento em que um sorriso sincero, um abraço afetuoso, uma compreensão no momento do erro, pode fazer com que a pessoa veja a vida diferente, fica evidente o conceito de tratamento e a correspondência que existe entre educador e médico da alma, devidamente contextualizado, é claro. Entendendo melhor os fatos, é necessário saber que conteúdos invisíveis que podem afligir a alma humana são vivenciados no quotidiano do professor. Sua atividade o encaminha a esse prisma de identificação. Assim sendo, o que um professor faz? Prescreve remédios! Isso mesmo, prescreve remédios. Porém, um remédio não farmaco-químico ou homeopático, mas remédio para os paradoxos existenciais da pessoa. Propriedade de medicação, tem muito a ver com situação. Nessa dimensão, com um dedicado acompanhamento da historicidade do aluno, enraizado os principais fatos que alicerçaram a sua historicidade, palavras podem se tornar um fármaco muito poderoso. Compreendida a adequação, isso tem profundas implicações na saúde do ser humano. Algumas pessoas, usam prosac para cimentar problemas na vida, ou ao menos tentam. Para outras pessoas, o caminho que buscam para lidar com a situação que lhes causam dor, direciona às drogas; outros, convencidos de estarem buscando um bem para si, expurgam do organismo todo alimento ingerido. Ainda há aqueles que tomam a depressão quase como uma medida sanitária para lidar com aquilo que no seu entendimento é ainda maior do que a própria depressão, entendida a depressão do ponto de vista da acepção médica. E o fazem por razões que nem sempre são facilmente compreendidas nem mesmo pelo profissional preparado para lidar com as quimeras existenciais. Mas algo é certo: primeiro, devemos entender que essa pessoa está dando o melhor do que dispõe para se ver livre de algo que a incomoda. Em segundo lugar, compreender que tais ações podem simplesmente estar mascarando algo mais complexo ainda, a qual, sozinha, sem o acompanhamento de algum artífice como suporte, não conseguiria. Na atualidade o problema bowling tem alcançado patamares assustadores nas escolas de todo o país, lamentavelmente diante de frageis esforços acadêmicos no que tange às discussões entre pesquisadores no intuito de encontrar mecanismos para mudar esse quadro. É necessário um esforço conjunto, insisto.
Nesse contexto, a escola pode amplificar significativamente esses números ou reduzir o alarmante crescimento da violência na escola, dependendo das ações corretas ou erradas que ela irá tomar. Seria irresponsável abordar na teoria desse artigo a hipótese de que a responsabilidade terapêutica sob essas situações que sitiam a psique do ser humano devam convergir ao professor. Profissionais adequados, terapeutas em geral, são indicados. Entretanto o foco aqui é outro. É entender os limites naturais que naturalmente se encontra no momento da interseção entre o professor, o aluno e o meio escolar em si, e o quanto as inferências pedagógicas podem ou não provocar alterações nos casos apresentados. De partida, a fala, o acompanhamento proximodal, a interatividade - objetos diretos com os quais o educador lida, são instrumentos poderosos. Não negligenciamos os fatos a ponto de tomar esses objetos de trabalho do professor por uma espécie de panaceia como mecanismo de solução para os problemas que se apresentam nas manifestações do educando, inclusive manifestações orgânicas como a depressão e a ansiedade. Necessariamente haverá situações que é imprescindível a indicação médica no sentido literal do termo, mas precisamos verbalizar que o exercício da alteridade comummente experenciado na escola, em muitas situações, pode ser o princípio do processo de reconstrução de valores, perspectivas, comportamento, vezes com expressivos crescimento e sucessos, e vezes com insucessos notórios. No trabalho de acompanhamento do professor junto aos alunos que apresentam eventuais distúrbios cujo processo é via somatização, independente de que esse aluno esteja sob acompanhamento especializado deve haver momentos de alternância na relação pedagógica oscilando entre uma relação de firmeza e serenidade; momentos de admoestação e momentos de partilha. A “fórmula” pede reflexão, fóruns, discussão e muito discernimento. A época pede essa discussão quando os princípios educativos vêm sendo rediscutidos incansavelmente pelos arredores do mundo, inclusive no Brasil o qual nesse ano em que se discute e se redefine os rumos da educação para os próximos 10 anos, fato que exige ativa participação de toda a sociedade, incluindo a família, agentes educacionais e sociais, daí o tema do artigo. A participação da sociedade e da família nessas discussões é fundamental, por isso a situação exige que discutamos também essas questões, sugere que nos preparemos para reivindicar políticas públicas que mantenham um compromisso com uma educação de qualidade. Na mesma direção, compreender o papel e limites daquele que educa ajuda a compreender os objetivos, soluções e possíveis problemas que enfrentaremos adiante, quando o novo formato de educação pressupõe uma proximidade não cartesiana. Na educação contemporânea sujeito x objeto caminham juntos, pautada em uma relação de reciprocidade e respeito.
Afinal, quais os princípios primeiros do ato de educar. Ensinar a ler e escrever, ou ajudar o aluno a tornar-se e desenvolver-se enquanto cidadão ativo no mundo onde está inserido. A questão é profunda, ler e escrever são coadjuvantes de se tornar cidadão, ou o contrário?
À guisa de uma especulação essencialmente abstrata, a analogia entre médico e professor transcende a terminologia da palavra. Ao considerarmos uma hipotética situação elucida com mais clareza as proposições: Uma mulher fragilizada e com baixa auto estima, estimulada por um quase inconsciente desejo de viver, procura por um salão de beleza para os cuidados do corpo. Ao final do dia, após receber os serviços daqueles profissionais, vai para casa feliz, contrário a quando chegou, com a imunidade do seu organismo a níveis intoleráveis (acrescentando uma dose de exagero). Enfim, os profissionais cuidaram ou não da sua saúde, se considerado que por meio do trato da beleza aconteceu uma enorme descarga de endorfina levando-a ao prazer e ao bem estar? A analogia aqui é a mesma quando da atuação do professor imbuído no seu trabalho de ajudar a redimensionar os caminhos existenciais do seu aluno. Para entendermos as reais dimensões do que expomos, é fundamental um estudo sobre as complexidades do pensamento filosófico e científico vislumbradas pela corrente do pensamento intelectual predominante nos nossos dias. Fica assim recomendado.
Bem mais que o livro, bem mais que a técnica, bem mais que o saber instrumental, é a capacidade existente na articulação vertiginosa como fruto da comunicação entre as pessoas. Alterar os circuitos do organismo humano nem sempre requer pílulas dos laboratórios, mas princípios de verdade e referências axiológicas construídas sob laços de confiança e de amizade, de mistérios que se encontram alojados em uma relação síncrona com a qual nos deparamos diariamente com os nossos alunos, e na outra margem, com nós mesmos; com o quanto é preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas em meio a arquipélagos de certeza - como bem poetizou Edgar Morin, ao tratar dos Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro; bem como assim, diante de toda inquietude que acomete toda e qualquer relação na vida e na sala de aula.


Prof. Wilson Barbosa 


- Filósofo Clínico 
- Especialista em Tecnologias na Educação



quarta-feira, 7 de abril de 2010

Por Wilson Alves

O artigo a seguir é uma resenha construída sob a catacrese “A escola do Bairro Cinza”, texto ilustrativo da disciplina Design Didático do Curso de Especialização em Tecnologias na Educação ministrado pela PUC/RJ.

UMA CONSCIENTIZAÇÃO INTELECTIVA DE UM PROBLEMA IMPLÍCITO PARA A HIPOTÉTICA ESCOLA CINZA

1ª IDÉIA: Uma Abordagem Geral e Apresentação do Problema
As idéias apresentadas nesse artigo, perpassam sob a ótica de estudos de Jean Piaget, um dos maiores representantes moderno no que se refere à psicologia voltada também a educação.
Apesar de todo o brilhantismo do trabalho de Piaget, convém lembrar que após os anos 80 os estudos em cognição, matéria em que Piaget debruçou-se, continuaram. São inúmeros os estudiosos que têm desenvolvido trabalhos acerca do desenvolvimento cognitivo da criança. Em Piaget, temos um marco fundamental para a história do desenvolvimento da inteligência. Com o seu trabalho, é instituída uma visão diferente de homem. O homem não é mais “fruto do meio”, mas um desdobramento contínuo de funções inatas e adquiridas que o compõe. Nessa linha de raciocínio, o desenvolvimento do intelecto passa por uma Lógica Progressiva – que sugere, por consequência, uma construção contígua. Os elementos constitutivos para essa progressão estariam calcados, portanto, na Lógica, na Geometria e no Aspecto Dinâmico de todo o processo do conhecimento. Os resultados dessas associações é que a criança, diante dessas ações, constrói um conhecimento autônomo, o que, obviamente é louvável do ponto de vista da educação, especialmente na visão da educação contemporânea. Nesse sentido, o conhecimento é uma tomada de consciência do sujeito-agente mediante o objeto, e mediante os signos que representam esse objeto.
É pertinente abordar uma situação-problema dentro da primeira idéia – Abordagem Geral. A Pedagogia Tradicional, num sistema político-pedagógico, de bases massificadora e ideais capitalistas, previam mão de obra barata e inculta para o desenvolvimento da indústria. Essa pedagogia disseminou no Brasil uma educação elitista e segregaria, o que é exaustivamente divulgado e já conhecido pelos educadores de hoje. Os prejuízos advindo desse período histórico, especificamente no problema da aprendizagem, é o caráter eminentemente reprodutivista que essa educação disseminou. Com os estudos de Piaget, parte desse problema teve uma abordagem e um enfrentamento novo, quando de uma nova perspectiva de homem (autônomo) não mais vendo-o como produto do meio e re-projetando-o a uma nova visão de mundo . Com isso, para a formação da criança seria maior a liberdade em desfrutar a curiosidade inata, explorando, dessa forma, o máximo da sua criatividade, da invencionice e, sobretudo, conforme atestava o próprio Piaget, da Lógica Progressiva no aprendizado, pois, fazer é compreender. Na criança, é comum que hajam desconstruções, haja vista as grandes possibilidades de Regressões – exigindo contínua reflexão e reconstrução – mecanismo pelo qual a criatividade é vivenciada na prática.
Para fins do nosso estudo, a hipotética escola Cinza, é um lugar apático e triste. Uma escola sem luz, sem sol, sem um processo pedagógico que eleve a auto estima da criança; sem uma pedagogia que não emancipa a pessoa humana. Se olharmos essa escola sob a perspectiva piagetiana, ela ainda não se encontra totalmente sob a “luz do sol”, mas há progressos, pois, já vislumbra à distância a “aurora do amanhecer” que possibilita tirá-la do total obscurantismo, tornando-a, assim, mais transparente, pedagogicamente falando, portanto, com melhores resultados. Na fábula a fadiga existencial que envolve a Escola Cinza sem vida e sem cor, tem por motivo subjacente à essa situação, professores que não mantêm um processo multi e interdisciplinar, então, não existe a capacidade de se construir coletivamente o conhecimento, dado a pouca significação aos conteúdos trabalhados, fragmentando o saber em disciplinas distintas entre si. Mas, reflitamos, por que de acordo com o esse texto, essa escola ainda não ganharia totalmente a luz do sol sob as bases da teoria piagetiana, se afirmamos ser ele um dos maiores expoentes na educação? Isso remete-nos à segunda idéia.
2ª IDÉIA: O Sócio-Construtivismo e a Subjetividade da Criança: Primeira Necessidade da Escola Cinza
Dado os devidos créditos aos estudos do mestre, é constatado que a produção do conhecimento na criança, embora tende a tornar-se autônoma na perspectiva de Piaget, não oferece suporte para uma pedagogia híbrida (na época, o socio-construtivismo não era uma pedagogia em vigor) – pois a construção autônoma da criança passava pelo crivo da Lógica, do Exato e do Aspecto Dinâmico da Ação, porém, sem espaço para a interatividade, para a troca de emoções, para a construção conjunta, para a fruição horizontal do aprendizado, entendendo-se:


Professor→Aluno; Aluno→Professor; Aluno< >Aluno
Para explicar essa ausência de tensão provocada pela razão prática, Piaget ensina a dialética dos significantes e dos significados. Sob a força da impressão dos signos é formano a afetação e a representação de mundo da e na criança.
Na hipotética Escola Cinza a harmonia provocada pelo Sócio-Construtivismo ampliaria substancialmente as capacidades cognitivas do aluno. Na interseção com o outro, na afirmação da alteridade manifesta-se a Lógica da Identidade. Sem essa característica anuvia-se o que se vê didaticamente pela frente na conjuntura de qualquer escola e estreita-se as possibilidades de construção formativa, princípios éticos e conceitos de cidadania – previstos como Direitos da criança na Carta Magna brasileira (Constituição Federal de 1988) e na Lei Federal 9394/1996 (LDB), que regulamenta a Educação Nacional.
Na apresentação do conteúdo que inspirou a criação desse texto, há uma espécie de questionário sugestivo. Nele, pergunta-se o que sentiríamos ao ser cerceada a nossa liberdade. Oferece ainda algumas opções de respostas. São perguntas indutivas, mas ainda que não o fossem, bastaria pouca, pouquíssima reflexão, para se chegar a mesma resposta indutivamente proposta.
As idéias que defendemos não constituem nenhuma novidade. Vivemos um momento da história educacional brasileira onde conceitos como “Desenvolver Habilidades”; “Trabalho em Equipe”; “Educação Formativa” tornaram-se presentes no circuito dos debates nacionais e internacionais de educação. O que é inusitado, é que grande parte dos educadores que defendem esses ideais, ao irem à prática na sala de aula, paradoxalmente, vão contra aquilo que proclamam e defendem na teoria. As aulas continuam as mesmas, recaindo sob a epígrafe de um currículo oculto, o saber superior e ditador do professor que “tudo sabe” e do outro lado o aluno que é mero recipiente do saber, um depósito, como bem explica Paulo Freire; um instrumento impensante e nada mais, um ponto enigmático sem autonomia que, por excelência e essência, tem em seu íntimo questionamentos, experiências oriundas do meio social, da vida- propriamente dito, mas que não as exteriorizam em sala de aula, e se as exteriorizam não provocam efeitos transformadores, confirmando, lamentavelmente, a não alteridade no processo educativo. O ponto sensível da questão é a instabilidade evidenciada na relação professor-aluno; a fragilidade emocional de certos educadores quando se vêem plasmados diante de uma utópica autoridade. Um gesso existencial, produto que é fruto da Educação Tradicional, altamente hierarquizada.
3ª IDÉIA: Transformação da Escola Cinza: As TIC e a Interseção Contígua entre Escola, Professores, Técnico-Administrativo e Comunidade.
Cônscios de uma educação que verdadeiramente transforma a realidade sob a qual a escola se encontra, estudos pormenorizados no mundo inteiro grita a urgência de se estabelecer uma política de educação emancipatória. Para que perpetue essa escola libertadora, a premissa primeira é conhecer o indivíduo na sua singularidade, respeitando seus limites e descobertas próprias. Um exemplo é a transversalidade que é uma exigência das Diretrizes da Educação para o Ensino Médio que molda o intento no qual temáticas como Meio Ambiente, Sexualidade, Pluralidade Cultural, Cidadania, Ética, Saúde, Trabalho e Consumo, sejam tratados e cuidados por toda a equipe do professorado e não pela Biologia ou pela Educação Religiosa ou pela Filosofia. Seguindo ainda no mesmo exemplo "trabalhar a educação sexual" (poderia ainda ser qualquer outra temática) perpassa uma conjuntura completa no que se refere ao trato da questão, significando com isso, que o aluno precisa conhecer o seu corpo, o movimento biológico da ebulição dos hormônios comum à adolescência e como há, devido a essa transformação, afetação nas suas emoções, culminando como objetivo , uma vivência da sexualidade com responsabilidade.
Ser livre do ponto de vista da educação sexual prevê responsabilidade sob atos e ações. Nesse aspecto, compete aos professores trabalhar o assunto de forma inter na escola. Esse tema, que foi apenas um exemplo, não compete à responsabilidade de um único professor, mas indubitavelmente a uma assessoria composta de todos os professores, inclusive, com a participação da família.
Esse modelo de responsabilidade educacional seria uma primeira proposta para qualquer Escola Cinza, bem como o é na prática para muitas Escolas Roxas, localizadas na nossa cidade, na quadra vizinha à nossa.
Quando anunciamos as TIC como medida profilática e potencialmente libertadora no sentido de instrumento para uma educação interacionista e socializante, referimos ao ato de que as tecnologias constituem um dos meios pelos quais se expressa e legitima as perspectivas apresentadas na primeira ideia desenvolvida nesse texto, e bem assim, na segunda ideia onde também elencamos os problemas. E por que as Tecnologias, de modo particular os LI (Laboratório de Informática) possuem essa característica? - Porque as infinitas propostas pedagógicas transitam de modo geral, por meio de situações e contextos hipermidianos; por possuir a possibilidade de construção educacional colaborativa em seus vários níveis de mecanismos virtuais de aprendizagens (Fóruns, Blogs, Orkut, entre outros); Porque uma estrutura pedagógica pautada no modelo de hipermídia, desconstrói eventual figura autocrática do educador, dando lugar a um cenário amiúde de professor mediador, aquele que norteia o desenvolvimento do aluno, oferecendo-lhe margem por onde convém trafegar. Antes de finalizarmos, há um acréscimo que importa comentar. Nessa nova perspectiva de pedagogia caracterizada pela inserção das TIC, se bem refletido, há consonância com as descobertas de Piaget ao estabelecer uma política onde a criatividade e a autonomia do aluno, ainda que por meio de mecanismos inconscientes da ação, eleva-o além da simples representação dos signos e dos aspectos encontrados no Construtivismo. Antes, o insere no gigantesco universo sócio-construtivista vygotskyano, onde todo aprendizado é necessariamente mediado, superando nesse ponto o previsto por Piaget.
A hipermídia tramita por meio de situações e descobertas intelectivas não lineares, assíncronas, e não necessariamente hierarquizada, promovendo a abolição do autoritarismo insano. Abre, portanto, oportunidade ao diálogo e sobre tudo, à Expressividade – que bem traduzido significa o quanto de mim vai em direção ao outro, no momento da comunicação” e não restringe apenas na semiótica, no seu sentido estrito, sendo “o canal de expressão do sujeito no momento da comunicação”. Por tudo isso, acreditamos que a influência das TIC na educação a qual vislumbramos nos dias atuais, é a ponta do iceberg da nova educação, da qual somos, enquanto sujeitos de uma geração, os primeiros protagonistas. A geração da pedagogia compartilhada.

Wilson Barbosa


- Filósofo Clínico 
- Especialista em Tecnologias na Educação




terça-feira, 2 de março de 2010

Por Wilson Alves


INTEGRAÇÃO DE MÍDIAS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

Há muito se discute quanto aos benefícios e malefícios quanto ao uso das tecnologias em favor do conhecimento humano. Se retroagirmos a tempos remotos, de modo especial, ao período da glória grega até o Iluminismo do século XVIII, cujos representantes volta-se, exclusivamente nesse contexto, para Jean Jacques Rousseau, Immanuel Kant com breve passagem por John Locke até a contemporaneidade, é possível perceber que as tecnologias vieram sendo evidenciadas e ganharam, ou não, visibilidade1 dependendo da ótica eminentemente cultural de época, de acordo com uma interpretação subjetivista acerca dos tratados dos filósofos expoentes da Teoria do Conhecimento, supracitado.2
Inferindo especificamente a despeito da cultura a qual vivemos, depreende-se facilmente que nas últimas duas décadas do século XX aconteceram grandes mudanças tanto no campo sócio-econômico e político quanto no reduto cultural das ciências e das tecnologias. Diante desse cenário, os processos tecnológicos centrados na comunicação em massa nas décadas citadas, e ainda hoje, não se fizeram sentir plenamente de modo a alterar o modo do tratado do conhecimento já postulado pelas psicologias, sociologia e outras áreas das ciências humanas. Obviamente fazemos menção apenas à ótica a qual iniciamos esse texto, isso implica que essa alusão é em um sentido stricto a qual articulamos junto a ideia central e jamais n'uma perspectiva aberta, fora de contexto, enfim, em um sentido lato. Em outras palavras, (que se anunciam aparentemente paradoxais) estamos vivendo exatamente um período de mudanças paradigmáticas, talvez exatamente como viveram principalmente os filósofos Iluministas, como expusemos acima a título de exemplo. Todavia, os efeitos do próprio Iluminismo em sua totalidade só foram percebidos em sua amplitude muito além do seu tempo. Da mesma forma, a crença é que os paradigmas rompidos (ou em rompimento) do qual vivenciamos, terá o ápice de aceitação em um tempo futuro, ainda em devir3, enquanto aspecto fenomenológico, cujos resultados também serão percebidos somente a posteriori.
Colocado esse pensamento introdutório, partimos a contextualizar a Integração das Mídias e as Práticas Pedagógicas, hoje. No cenário atual, ao contrário dos períodos anteriores, caracterizado pela ausência de empenho político-educacional e seus respectivos órgãos reguladores no que se refere a subsidiar os sistemas de ensino no implemento de novas tecnologias no processo educativo, vivemos um cenário onde temos a oportunidade de vislumbrar escolas equipadas com recursos áudio-visuais, informática, ambientes virtuais colaborativos de aprendizagem e outros, dinamizando ou se propondo a, para a integração pedagógica com tais recursos. Essa integração por si somente não garante um proveito satisfatório ao aprendizado do aluno, tendo por conceito primeiro que as tecnologias, principalmente o computador/internet não ensina e não educa, mas o sujeito que se encontra atrás desses sistemas tecnológicos é o proponente associativo para efetivar esse ensinamento4. Atualmente a integração das mídias ao processo educativo vêm se mostrando como uma importante alternativa para o enfrentamento da falta de acesso a educação nos mais distintos níveis. Dessa forma, cumpre entender que a investidura na árdua tarefa de conscientização junto aos educadores no sentido de se abrirem para possibilidades concretas oferecidas pelos recursos das mídias, que teoricamente faz enriquecer a sua aula, faz também crescer substancialmente o sentido do seu trabalho enquanto professor. Essa integração, objeto central do texto, não se dá de forma aleatória e descontextualizada da realidade local, regional e, sobretudo, cultural. Ou seja, de nada, ou muito pouco valerá, o professor usar dos recursos midiáticos visuais, por exemplo, quando é privilegiado apenas o aspecto da AV (Acuidade Visual) cujo fim é manter os alunos “ocupados” com o que se assiste. Nesse sentido, as mídias não ocupam o seu papel pedagógico, subtraindo de forma maldosa e criminosa a oportunidade do educando em se desenvolver como cidadão, como pessoa humana. Os pressupostos das tecnologias precisam ser encarados como mecanismos de atalhos intelectivos para a possibilidade de aprendizado concreto, jamais possível de ser alcançado nos métodos tradicionais de dar aula vivenciados pela geração anterior a nossa. Só dessa maneira a educação intermediada pelas tecnologias pode perder eventuais estigmas outrora disseminados por meio de iniciativas mal sucedidas com o uso dos recursos das mídias que discutimos nesse artigo e dessa maneira ganhar prestígio e respeito do grande público.


Wilson Barbosa


- Filósofo Clínico 
- Especialista em Tecnologias na Educação
1 A heterogeneidade brasileira, os aspectos culturais que marcam regionalmente o país, faz com que o enunciado dessa questão ganhe maior ou menor representatividade social, conforme os setores sociais envolvidos. A idéia e consenso sobre o uso das tecnologias na educação são vistas de modo descentralizado, tendo em vista principalmente a extensão geográfica do país onde os processos culturais mudam conforme a região (Grifo nosso)
2 A história da tecnologia é a história das ferramentas e das técnicas úteis para fazer coisas práticas. Relaciona-se intimamente com a história da ciência, que inclui a maneira como os seres humanos adquiriram o conhecimento básico necessário para construir coisas úteis. Exemplo: fogo, cobre, agricultura, roda, escrita, cujos fins eram, por natureza, tecnologias. (pt.wikipedia.org)
3 Devir- o que está no vir a ser, a transforma-se. (Grifo meu)
4 Não vamos adentrar na discussão moderna se o homem pode ou não ensinar algo a alguém. O objetivo é clarificar o sentido do uso das tecnologias no processo educativo. Portanto, vamos abdicar de discussões meramente protelatória ao fundamento principal do texto.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Por Wilson Alves

Reflexão sobre o Perfil e as Atribuições do Professor Dinamizador

Este profissional, como qualquer outro professor da Escola, está intimamente ligado a equipe pedagógica da instituição. Servidor efetivo, responde hierarquicamente à Gestão da Escola onde se encontra lotado. Dessa forma, é importante uma estreita observação aos ditames da equipe escolar sem deixar de atender as solicitações próprias do cargo, a saber, a dinamização do Laboratório de Informática e dos Recursos Midiáticos.
O Dinamizador de laboratório é aquele profissional que estabelecerá uma “ponte” entre o professor de uma disciplina específica e o aluno, quando do uso dos equipamentos, incluindo nesse processo, além dos computadores, a TV ,DVD e outros. Disso resulta que o Dinamizador precisa ter uma visão global no tocante ao planejamento de atividades com o uso das referidas tecnologias. É ele quem tem melhor visão a despeito do uso adequado do tempo em proporção a realização de atividades condicionadas ao perfil dos alunos. Como os demais professores, ele é um agente facilitador do processo de ensino-aprendizagem, pois, na conjuntura do seu dinamismo, estabelece junto ao professor titular que procura o laboratório as melhores atividades-meio para se atingir o fim esperado.
Conforme disposição na Cartilha 2010 da SEDUC–GO, eis alguns componentes desejáveis ao seu perfil:
· Ser servidor efetivo da rede;
· Ser professor habilitado em nível superior na área de Educação – Licenciatura Plena;
· Ter participado de curso sobre uso das tecnologias aplicadas à Educação (priorizando, inicialmente, a TV e o computador), comprovados com os documentos de certificação;
· Ser comprometido com o sucesso do projeto pedagógico da escola;
· Ter disponibilidade para participar da realização de cursos fora de seu domicílio;
· Saber formular e conduzir estratégias pedagógicas em grupo;
· Ser capaz de estabelecer processo de comunicação, marcado pela confiança, cordialidade e competência entre os integrantes da equipe escolar, pais e comunidade;
· Ter interesse e entusiasmo pelo uso de tecnologia, visando ao desenvolvimento da aprendizagem.

Todos os itens enumerados são relevantes para o desenvolvimento do seu trabalho, mas por hora, vamos nos restringir a esmiuçar com maiores propriedades o que compete a sua própria formação para o desempenho da sua função. Sabemos que para qualquer ofício que propomos desenvolver, é imprescindível estarmos num processo de formação contínua. No caso do Dinamizador de Laboratório, é fundamental que este esteja em perfeita sintonia junto a instituição que promova capacitação para a sua área, o NTE - Núcleo de Tecnologia Educacional. O NTE no uso das suas atribuições, durante todo o ano letivo, procura levar àquele cursos, oficinas, palestras e suporte técnico para o bom desempenho do seu trabalho. Essas atividades compõem uma gama muito grande de recursos técnicos os quais o Dinamizador de Laboratório pode e deve oferecer ao professor, dando sentido à sua função. Nesse processo de formação contínua, o professor-dinamizador conta com uma equipe pedagógica formada e capacitada para ajudá-lo no desenvolvimento de novos trabalhos, novas idéias que possam agregar valor as atividades desenvolvidas com o uso das tecnologias no contexto pedagógico. Não obstante, a partir dessa interação com o NTE, o dinamizador tem a oportunidade de estender uma interação também com outros dinamizadores, sendo o NTE um Pólo de referência e um centro redistributivo dos saberes elementares à sua atividade.
Outra característica importante do trabalho do dinamizador encerra em questões que transcendem ao movimento estritamente técnico: A Ética profissional. A sua formação ética é balizadora do conjunto operacional do trabalho desenvolvido pelo profissional do laboratório de informática. A educação contemporânea privilegia a formação integral do aluno, o que justifica a esse profissional ser detentor de saberes que digam respeito ao relacionamento interpessoal, ao respeito mútuo no trabalho, à solidariedade. Ademais, sabemos que o processo educativo a muito não é visto como um amontoado de disciplinas segmentadas, meramente justapostas e desconexas entre si, logo, não cabe apenas ao professor de Filosofia, Sociologia ou Língua Portuguesa envolver em suas aulas o problema da ética, mas todos os profissionais da educação, incluindo, portanto, o professor dinamizador.
Espera-se do aluno egresso do Ensino Médio que ele possa contemplar conhecimentos que vão além do aprendizado da educação formal. O mundo do trabalho exige do aluno pleno domínio dos saberes técnicos da educação formal, mas também que saiba interagir com a sociedade, com os clientes e com colegas; que saiba relacionar-se com a multiplicidade que marca o mundo globalizado. Nesse ínterim as tecnologias da educação são um aporte para o desenvolvimento do aluno e que, por sua vez, exige também do dinamizador o domínio das competências do relacionar em grupo, da liderança de pessoas, do domínio de atitudes do saber ser e do saber fazer – contemplando uma formação pró-ativa para o aluno; exige ainda, capacidade de interagir com a sociedade e com as famílias dos educandos. Definitivamente, o profissional das tecnologias na escola não é uma “pedra” deslocada da estrutura do sistema educativo, antes, um ponto de convergência pronto a auxiliar todas as áreas do saber de modo que coadune em um processo de construção do conhecimento com a participação dos recursos midiáticos.

Wilson Barbosa


- Filósofo Clínico 
- Especialista em Tecnologias na Educação
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