Construindo Sonhos
com Serenidade
Aceite essas palavras
e meu apreço!
Nesse texto,
oportunizei um momento de desvio de foco consoante às discussões pretensiosamente
linkados à educação e trabalho, com o objetivo de voltar a percepção
para os espaços existentes entre o que previamente pensamos a despeito dos
sonhos e as múltiplas relações internas, as quais sentimos e experimentamos no
cotidiano, provocados pelo ato de sonhar.
O modo como construímos
os nossos projetos existenciais e os nossos sonhos parece às vezes vir à
consciência já adoecidos por não sabermos elaborá-los e pensá-los com
excelência. Talvez não necessariamente os projetos e sonhos, mas os métodos
adjacentes a esses, pelo fato de estarem intimamente atrelados, moldando a
estruturação mental da pessoa. Algo de fácil separação no plano teórico, mas,
para algumas pessoas, de grande complexidade na prática.
Hipoteticamente a pessoa que vivencia essa
situação se assemelha a alguém perdido em um labirinto, uma situação incômoda
de difícil saída. Na acepção médica, essa relação mente x pensamento, por vezes
é entendida como algum tipo de doença ou estado doentio como ansiedade crônica,
depressão, tipos variados de síndromes, etc., contrapondo a outras
possibilidades de entendimento.
O desdobramento do que
me vem à mente a essa introdução, diz respeito a queixas existenciais que
provém do modo como habitualmente muitas pessoas articulam o pensamento para a
construção dos sonhos e esperanças. As expressões verbais que dão conta dos
inúmeros casos em que a pessoa sofre à causa são incontáveis: “por que será que sofro tanto nessa vida,
tento, tento e fracasso; nada consigo; por que a vida faz isso comigo, tudo que
quero não consigo”.
São pensamentos eivados
de um projeto infeliz de elaborar os conceitos e mesmo tendo consciência disso,
são exaustivamente exercitados na malha intelectiva e sempre tendem a levar a um
enorme esgotamento mental. Observe a palavra destacada “tendem”, porque a priori não há como afirmar que seja
uma causa de sofrimento para todas as pessoas, embora no geral seja exatamente isso
que ocorre quando existe esse tipo de queixa. Nessa linha, podemos aventar que
pensar errado pode causar muito cansaço.
Na perspectiva da
Filosofia Clínica, essa trama de pensamentos com esse tipo de ‘vício’ é intitulado de Armadilha
Conceitual, algo que faz inferência a um modo de ser da pessoa a qual a leva a sentir-se
aprisionada dentro dos próprios conceitos. Literalmente a pessoa esquiva-se
para um lado e outro tentando uma saída e não tem sucesso. Sem saber como ou o porquê das coisas (idéias) serem embaraçadas, tenta sobrepor
determinada situação e quanto mais se esforça, mais se perde em abstrações que
não edificam. Parece que o modo como vêm construindo o mundo existencial não
oferece outras oportunidades, senão apenas girar na mesma esfera de conceitos
que, em síntese, não leva a lugar algum.
Em definição clara e a
título de exemplo, bem assim é explicitado na conjuntura da Filosofia Clínica[1]:
“Armadilha
Conceitual é uma trama de conceitos que tem como característica aprisionar
existencialmente a pessoa. Em uma Armadilha Conceitual a pessoa acusa estar
lutando sem sair do lugar, mostra estar fazendo esforços em direção a algo que
não parece alcançar, é usual que a pessoa demonstre estar em uma areia
movediça. Muitas expressões aparecem na história de vida de uma pessoa, no
consultório, propiciando indícios de Armadilhas Conceituais: “eu nado, nado, e
não saio do lugar; parece que a minha vida anda em círculos; quanto mais eu
busco, menos eu encontro”. Há centenas de expressões sinônimas a estas. Há
também inúmeras formas pelas quais uma Armadilha Conceitual pode atrapalhar a
vida de uma pessoa. Quando a pessoa empreende esforços para atingir suas metas
e tem seus caminhos fechados, isso é em geral um atrapalho. O problema é que
algumas Armadilhas Conceituais são invisíveis para a própria pessoa; ela padece
com elas e acaba atribuindo suas mazelas a outras coisas. Um exemplo disso é
culpar o casamento como fonte dos sofrimentos, quando o que de fato ocorre é
uma incapacidade da pessoa em corresponder a uma relação afetiva”.
Note que por definição,
a sensação que a pessoa tem pode ser comparada a uma espécie de sufocamento, e
às vezes a somatização do conceito gera efeito tão forte que literalmente
ocorre uma completa perda de forças na pessoa. O resultado é inevitavelmente o
sofrimento. É claro que essa é uma das muitas possibilidades de fazer com que a
pessoa se sinta assim. Existem outras, mas nesse artigo proponho enfatizar esse
aspecto para relacioná-lo ao momento da vida de muitas pessoas que andam
sentindo cansaço em suas mentes ao tentarem exercitar com proficiência o
pensamento em direção a, e torcem,
por conseqüência desses problemas, o modo como vêem a si mesmos, seja tecendo
comparações, criando ambigüidades conceituais, se auto desprestigiando.
Fiquei pensando em
quantas pessoas tem abortado os sonhos, porque ao sonharem, emaranham-se entre
as idéias a tal ponto que não vislumbram saída para o estado tautológico em que
se encontram e, desse modo, não conseguem sentir leveza, paz, tranqüilidade, mas
tormento, e percebem que ao pensar, ao articular intelectivamente os sonhos,
apenas sentem fatiga e por isso vêm minguando a conta-gotas, a prestação, a
arte de sonhar. Concordando com o senso comum, sempre morrem na praia!
O quero que aconteça ao
discutir isso, é que as pessoas que se perdem no pensamento a ponto de causar
sofrimento quando esboçam para si mesmos os próprios projetos existenciais,
encontrem um farol próximo ou distante que os orientem ao entendimento da
razão; dos motivos que as fazem sentirem-se assim, muito embora o fato de descobrir
qual a razão, por si só, talvez não seja motivo de melhora. Por quê? Porque não
é assim para todo mundo. Mas não importa, o que de fato importa é que cada um
consiga entender o próprio funcionamento para desconstrução dos próprios
conflitos e, a partir daí, buscar meios.
Quero com ousadia,
demonstrar que a característica de viver uma Armadilha Conceitual é um fenômeno
da própria estrutura organizada do pensamento humano, ou má organizada,
dependendo da interpretação.
A notícia que alivia é que
essa Armadilha pode ser alterada, se assim for o desejo da pessoa. Isso não é o
mover do sobrenatural ou um fenômeno meta-psicológico, mas um entendimento
filosófico que faz uso da própria filosofia em si, utilizando-se de meios que
levam à organização do pensamento, promovendo, via razão, alterações profundas
na vida como um todo. Esses mecanismos são passíveis a novos desdobramentos, e
ao serem trabalhados levam a zonas mais ‘seguras’ e confortáveis, quando
comparado a antiga causa sofredora. Se não é possível entender isso sozinho,
nenhum mal há em buscar ajuda.
Se os padrões de
pensamentos que impedem uma pessoa de caminhar forem movidos para outra arena,
se com essa discussão propiciarmos juntos a construção e a busca de um novo olhar
sob os sonhos e sob a vida, terá valido a pena. Se esse texto sinalizar à celebração
de um novo percepcionar sobre as coisas; se de qualquer modo propiciar um novo percepcionar
sob o que incomoda, terá cumprido seu papel.
Bem, dizem que quem
escreve, escreve também de si mesmo. Será?
Desejo uma mente
descansada para você!
[1] www.filosofiaclinica.com.br/exercícios
com resposta comentada
Profº Wilson Barbosa
Profº Wilson Barbosa
-Filósofo Clínico e
-Técnico em Assuntos Educacionais
-IFTO – Instituto Federal do Tocantins
-Campus Porto Nacional.