quarta-feira, 7 de abril de 2010

Por Wilson Alves

O artigo a seguir é uma resenha construída sob a catacrese “A escola do Bairro Cinza”, texto ilustrativo da disciplina Design Didático do Curso de Especialização em Tecnologias na Educação ministrado pela PUC/RJ.

UMA CONSCIENTIZAÇÃO INTELECTIVA DE UM PROBLEMA IMPLÍCITO PARA A HIPOTÉTICA ESCOLA CINZA

1ª IDÉIA: Uma Abordagem Geral e Apresentação do Problema
As idéias apresentadas nesse artigo, perpassam sob a ótica de estudos de Jean Piaget, um dos maiores representantes moderno no que se refere à psicologia voltada também a educação.
Apesar de todo o brilhantismo do trabalho de Piaget, convém lembrar que após os anos 80 os estudos em cognição, matéria em que Piaget debruçou-se, continuaram. São inúmeros os estudiosos que têm desenvolvido trabalhos acerca do desenvolvimento cognitivo da criança. Em Piaget, temos um marco fundamental para a história do desenvolvimento da inteligência. Com o seu trabalho, é instituída uma visão diferente de homem. O homem não é mais “fruto do meio”, mas um desdobramento contínuo de funções inatas e adquiridas que o compõe. Nessa linha de raciocínio, o desenvolvimento do intelecto passa por uma Lógica Progressiva – que sugere, por consequência, uma construção contígua. Os elementos constitutivos para essa progressão estariam calcados, portanto, na Lógica, na Geometria e no Aspecto Dinâmico de todo o processo do conhecimento. Os resultados dessas associações é que a criança, diante dessas ações, constrói um conhecimento autônomo, o que, obviamente é louvável do ponto de vista da educação, especialmente na visão da educação contemporânea. Nesse sentido, o conhecimento é uma tomada de consciência do sujeito-agente mediante o objeto, e mediante os signos que representam esse objeto.
É pertinente abordar uma situação-problema dentro da primeira idéia – Abordagem Geral. A Pedagogia Tradicional, num sistema político-pedagógico, de bases massificadora e ideais capitalistas, previam mão de obra barata e inculta para o desenvolvimento da indústria. Essa pedagogia disseminou no Brasil uma educação elitista e segregaria, o que é exaustivamente divulgado e já conhecido pelos educadores de hoje. Os prejuízos advindo desse período histórico, especificamente no problema da aprendizagem, é o caráter eminentemente reprodutivista que essa educação disseminou. Com os estudos de Piaget, parte desse problema teve uma abordagem e um enfrentamento novo, quando de uma nova perspectiva de homem (autônomo) não mais vendo-o como produto do meio e re-projetando-o a uma nova visão de mundo . Com isso, para a formação da criança seria maior a liberdade em desfrutar a curiosidade inata, explorando, dessa forma, o máximo da sua criatividade, da invencionice e, sobretudo, conforme atestava o próprio Piaget, da Lógica Progressiva no aprendizado, pois, fazer é compreender. Na criança, é comum que hajam desconstruções, haja vista as grandes possibilidades de Regressões – exigindo contínua reflexão e reconstrução – mecanismo pelo qual a criatividade é vivenciada na prática.
Para fins do nosso estudo, a hipotética escola Cinza, é um lugar apático e triste. Uma escola sem luz, sem sol, sem um processo pedagógico que eleve a auto estima da criança; sem uma pedagogia que não emancipa a pessoa humana. Se olharmos essa escola sob a perspectiva piagetiana, ela ainda não se encontra totalmente sob a “luz do sol”, mas há progressos, pois, já vislumbra à distância a “aurora do amanhecer” que possibilita tirá-la do total obscurantismo, tornando-a, assim, mais transparente, pedagogicamente falando, portanto, com melhores resultados. Na fábula a fadiga existencial que envolve a Escola Cinza sem vida e sem cor, tem por motivo subjacente à essa situação, professores que não mantêm um processo multi e interdisciplinar, então, não existe a capacidade de se construir coletivamente o conhecimento, dado a pouca significação aos conteúdos trabalhados, fragmentando o saber em disciplinas distintas entre si. Mas, reflitamos, por que de acordo com o esse texto, essa escola ainda não ganharia totalmente a luz do sol sob as bases da teoria piagetiana, se afirmamos ser ele um dos maiores expoentes na educação? Isso remete-nos à segunda idéia.
2ª IDÉIA: O Sócio-Construtivismo e a Subjetividade da Criança: Primeira Necessidade da Escola Cinza
Dado os devidos créditos aos estudos do mestre, é constatado que a produção do conhecimento na criança, embora tende a tornar-se autônoma na perspectiva de Piaget, não oferece suporte para uma pedagogia híbrida (na época, o socio-construtivismo não era uma pedagogia em vigor) – pois a construção autônoma da criança passava pelo crivo da Lógica, do Exato e do Aspecto Dinâmico da Ação, porém, sem espaço para a interatividade, para a troca de emoções, para a construção conjunta, para a fruição horizontal do aprendizado, entendendo-se:


Professor→Aluno; Aluno→Professor; Aluno< >Aluno
Para explicar essa ausência de tensão provocada pela razão prática, Piaget ensina a dialética dos significantes e dos significados. Sob a força da impressão dos signos é formano a afetação e a representação de mundo da e na criança.
Na hipotética Escola Cinza a harmonia provocada pelo Sócio-Construtivismo ampliaria substancialmente as capacidades cognitivas do aluno. Na interseção com o outro, na afirmação da alteridade manifesta-se a Lógica da Identidade. Sem essa característica anuvia-se o que se vê didaticamente pela frente na conjuntura de qualquer escola e estreita-se as possibilidades de construção formativa, princípios éticos e conceitos de cidadania – previstos como Direitos da criança na Carta Magna brasileira (Constituição Federal de 1988) e na Lei Federal 9394/1996 (LDB), que regulamenta a Educação Nacional.
Na apresentação do conteúdo que inspirou a criação desse texto, há uma espécie de questionário sugestivo. Nele, pergunta-se o que sentiríamos ao ser cerceada a nossa liberdade. Oferece ainda algumas opções de respostas. São perguntas indutivas, mas ainda que não o fossem, bastaria pouca, pouquíssima reflexão, para se chegar a mesma resposta indutivamente proposta.
As idéias que defendemos não constituem nenhuma novidade. Vivemos um momento da história educacional brasileira onde conceitos como “Desenvolver Habilidades”; “Trabalho em Equipe”; “Educação Formativa” tornaram-se presentes no circuito dos debates nacionais e internacionais de educação. O que é inusitado, é que grande parte dos educadores que defendem esses ideais, ao irem à prática na sala de aula, paradoxalmente, vão contra aquilo que proclamam e defendem na teoria. As aulas continuam as mesmas, recaindo sob a epígrafe de um currículo oculto, o saber superior e ditador do professor que “tudo sabe” e do outro lado o aluno que é mero recipiente do saber, um depósito, como bem explica Paulo Freire; um instrumento impensante e nada mais, um ponto enigmático sem autonomia que, por excelência e essência, tem em seu íntimo questionamentos, experiências oriundas do meio social, da vida- propriamente dito, mas que não as exteriorizam em sala de aula, e se as exteriorizam não provocam efeitos transformadores, confirmando, lamentavelmente, a não alteridade no processo educativo. O ponto sensível da questão é a instabilidade evidenciada na relação professor-aluno; a fragilidade emocional de certos educadores quando se vêem plasmados diante de uma utópica autoridade. Um gesso existencial, produto que é fruto da Educação Tradicional, altamente hierarquizada.
3ª IDÉIA: Transformação da Escola Cinza: As TIC e a Interseção Contígua entre Escola, Professores, Técnico-Administrativo e Comunidade.
Cônscios de uma educação que verdadeiramente transforma a realidade sob a qual a escola se encontra, estudos pormenorizados no mundo inteiro grita a urgência de se estabelecer uma política de educação emancipatória. Para que perpetue essa escola libertadora, a premissa primeira é conhecer o indivíduo na sua singularidade, respeitando seus limites e descobertas próprias. Um exemplo é a transversalidade que é uma exigência das Diretrizes da Educação para o Ensino Médio que molda o intento no qual temáticas como Meio Ambiente, Sexualidade, Pluralidade Cultural, Cidadania, Ética, Saúde, Trabalho e Consumo, sejam tratados e cuidados por toda a equipe do professorado e não pela Biologia ou pela Educação Religiosa ou pela Filosofia. Seguindo ainda no mesmo exemplo "trabalhar a educação sexual" (poderia ainda ser qualquer outra temática) perpassa uma conjuntura completa no que se refere ao trato da questão, significando com isso, que o aluno precisa conhecer o seu corpo, o movimento biológico da ebulição dos hormônios comum à adolescência e como há, devido a essa transformação, afetação nas suas emoções, culminando como objetivo , uma vivência da sexualidade com responsabilidade.
Ser livre do ponto de vista da educação sexual prevê responsabilidade sob atos e ações. Nesse aspecto, compete aos professores trabalhar o assunto de forma inter na escola. Esse tema, que foi apenas um exemplo, não compete à responsabilidade de um único professor, mas indubitavelmente a uma assessoria composta de todos os professores, inclusive, com a participação da família.
Esse modelo de responsabilidade educacional seria uma primeira proposta para qualquer Escola Cinza, bem como o é na prática para muitas Escolas Roxas, localizadas na nossa cidade, na quadra vizinha à nossa.
Quando anunciamos as TIC como medida profilática e potencialmente libertadora no sentido de instrumento para uma educação interacionista e socializante, referimos ao ato de que as tecnologias constituem um dos meios pelos quais se expressa e legitima as perspectivas apresentadas na primeira ideia desenvolvida nesse texto, e bem assim, na segunda ideia onde também elencamos os problemas. E por que as Tecnologias, de modo particular os LI (Laboratório de Informática) possuem essa característica? - Porque as infinitas propostas pedagógicas transitam de modo geral, por meio de situações e contextos hipermidianos; por possuir a possibilidade de construção educacional colaborativa em seus vários níveis de mecanismos virtuais de aprendizagens (Fóruns, Blogs, Orkut, entre outros); Porque uma estrutura pedagógica pautada no modelo de hipermídia, desconstrói eventual figura autocrática do educador, dando lugar a um cenário amiúde de professor mediador, aquele que norteia o desenvolvimento do aluno, oferecendo-lhe margem por onde convém trafegar. Antes de finalizarmos, há um acréscimo que importa comentar. Nessa nova perspectiva de pedagogia caracterizada pela inserção das TIC, se bem refletido, há consonância com as descobertas de Piaget ao estabelecer uma política onde a criatividade e a autonomia do aluno, ainda que por meio de mecanismos inconscientes da ação, eleva-o além da simples representação dos signos e dos aspectos encontrados no Construtivismo. Antes, o insere no gigantesco universo sócio-construtivista vygotskyano, onde todo aprendizado é necessariamente mediado, superando nesse ponto o previsto por Piaget.
A hipermídia tramita por meio de situações e descobertas intelectivas não lineares, assíncronas, e não necessariamente hierarquizada, promovendo a abolição do autoritarismo insano. Abre, portanto, oportunidade ao diálogo e sobre tudo, à Expressividade – que bem traduzido significa o quanto de mim vai em direção ao outro, no momento da comunicação” e não restringe apenas na semiótica, no seu sentido estrito, sendo “o canal de expressão do sujeito no momento da comunicação”. Por tudo isso, acreditamos que a influência das TIC na educação a qual vislumbramos nos dias atuais, é a ponta do iceberg da nova educação, da qual somos, enquanto sujeitos de uma geração, os primeiros protagonistas. A geração da pedagogia compartilhada.

Wilson Barbosa


- Filósofo Clínico 
- Especialista em Tecnologias na Educação




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