sexta-feira, 7 de maio de 2010

Por Wilson Alves

2011 A 2020
PNE – PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

E o Novo Olhar Sobre as Ações do Professor

Por Wilson Alves, Filósofo Clínico; Especialista em Tecnologias na Educação e Professor Formador do NTE-Anápolis.



Ao lançarmos os olhos sob a trajetória profissional do educador, seja ele legalmente investido pelo Estado, seja atuando na educação formal do setor privado, ou ainda, investido em tarefas da educação informal, apreciado os caminhos percorridos ao longo da sua carreira e refletindo sobre a sua responsabilidade de acompanhamento técnico, psicosocial, psicopedagógico e humanitário nas várias dimensões da vida do aluno, e ainda, observadas as condições mínimas com as quais este dispõe para prestar acompanhamento em direção aos pontos cegos da alma, maximiza a necessidade de fomentarmos ponderações acerca dos desdobramentos decorrentes desse processo de formação que, invariavelmente, nos instiga a profundas reflexões filosóficas ainda não exploradas em nossos artigos. Devido a objetivos e a própria natureza das ações pedagógicas inerentes ao ato de ser professor, tais ações se refletem sob um aspecto pouco discutido no meio acadêmico: o conceito de doença x cura sob a ótica da dialética, da maiêutica, da lógica aristotélica.
Caracterizado o problema, requer que elaboremos quase uma exegese sob esse fato que, em via de regra, gera consequências graves a inobservância da profilaxia existente em potencial, a qual deve ser adotada de forma transversalizada no contexto da sala de aula a fim de evitar problemas dos quais afetam gravemente a comunidade escolar e a comunidade em geral. Consoante à questão saúde-doença e, de modo particular os vivenciados na escola, encontramos manifestações sensoriais conhecidas por bowling, bulimia, anorexia, derivações das histerias, vários desdobramentos da depressão, síndromes das mais variadas.
Se partirmos da premissa que doente é todo aquele que precisa de cura; se entendermos que aquilo que não faz bem à pessoa, naturalmente encontra o caminho oposto, isto é, faz mal; se considerarmos que a partir do momento em que um sorriso sincero, um abraço afetuoso, uma compreensão no momento do erro, pode fazer com que a pessoa veja a vida diferente, fica evidente o conceito de tratamento e a correspondência que existe entre educador e médico da alma, devidamente contextualizado, é claro. Entendendo melhor os fatos, é necessário saber que conteúdos invisíveis que podem afligir a alma humana são vivenciados no quotidiano do professor. Sua atividade o encaminha a esse prisma de identificação. Assim sendo, o que um professor faz? Prescreve remédios! Isso mesmo, prescreve remédios. Porém, um remédio não farmaco-químico ou homeopático, mas remédio para os paradoxos existenciais da pessoa. Propriedade de medicação, tem muito a ver com situação. Nessa dimensão, com um dedicado acompanhamento da historicidade do aluno, enraizado os principais fatos que alicerçaram a sua historicidade, palavras podem se tornar um fármaco muito poderoso. Compreendida a adequação, isso tem profundas implicações na saúde do ser humano. Algumas pessoas, usam prosac para cimentar problemas na vida, ou ao menos tentam. Para outras pessoas, o caminho que buscam para lidar com a situação que lhes causam dor, direciona às drogas; outros, convencidos de estarem buscando um bem para si, expurgam do organismo todo alimento ingerido. Ainda há aqueles que tomam a depressão quase como uma medida sanitária para lidar com aquilo que no seu entendimento é ainda maior do que a própria depressão, entendida a depressão do ponto de vista da acepção médica. E o fazem por razões que nem sempre são facilmente compreendidas nem mesmo pelo profissional preparado para lidar com as quimeras existenciais. Mas algo é certo: primeiro, devemos entender que essa pessoa está dando o melhor do que dispõe para se ver livre de algo que a incomoda. Em segundo lugar, compreender que tais ações podem simplesmente estar mascarando algo mais complexo ainda, a qual, sozinha, sem o acompanhamento de algum artífice como suporte, não conseguiria. Na atualidade o problema bowling tem alcançado patamares assustadores nas escolas de todo o país, lamentavelmente diante de frageis esforços acadêmicos no que tange às discussões entre pesquisadores no intuito de encontrar mecanismos para mudar esse quadro. É necessário um esforço conjunto, insisto.
Nesse contexto, a escola pode amplificar significativamente esses números ou reduzir o alarmante crescimento da violência na escola, dependendo das ações corretas ou erradas que ela irá tomar. Seria irresponsável abordar na teoria desse artigo a hipótese de que a responsabilidade terapêutica sob essas situações que sitiam a psique do ser humano devam convergir ao professor. Profissionais adequados, terapeutas em geral, são indicados. Entretanto o foco aqui é outro. É entender os limites naturais que naturalmente se encontra no momento da interseção entre o professor, o aluno e o meio escolar em si, e o quanto as inferências pedagógicas podem ou não provocar alterações nos casos apresentados. De partida, a fala, o acompanhamento proximodal, a interatividade - objetos diretos com os quais o educador lida, são instrumentos poderosos. Não negligenciamos os fatos a ponto de tomar esses objetos de trabalho do professor por uma espécie de panaceia como mecanismo de solução para os problemas que se apresentam nas manifestações do educando, inclusive manifestações orgânicas como a depressão e a ansiedade. Necessariamente haverá situações que é imprescindível a indicação médica no sentido literal do termo, mas precisamos verbalizar que o exercício da alteridade comummente experenciado na escola, em muitas situações, pode ser o princípio do processo de reconstrução de valores, perspectivas, comportamento, vezes com expressivos crescimento e sucessos, e vezes com insucessos notórios. No trabalho de acompanhamento do professor junto aos alunos que apresentam eventuais distúrbios cujo processo é via somatização, independente de que esse aluno esteja sob acompanhamento especializado deve haver momentos de alternância na relação pedagógica oscilando entre uma relação de firmeza e serenidade; momentos de admoestação e momentos de partilha. A “fórmula” pede reflexão, fóruns, discussão e muito discernimento. A época pede essa discussão quando os princípios educativos vêm sendo rediscutidos incansavelmente pelos arredores do mundo, inclusive no Brasil o qual nesse ano em que se discute e se redefine os rumos da educação para os próximos 10 anos, fato que exige ativa participação de toda a sociedade, incluindo a família, agentes educacionais e sociais, daí o tema do artigo. A participação da sociedade e da família nessas discussões é fundamental, por isso a situação exige que discutamos também essas questões, sugere que nos preparemos para reivindicar políticas públicas que mantenham um compromisso com uma educação de qualidade. Na mesma direção, compreender o papel e limites daquele que educa ajuda a compreender os objetivos, soluções e possíveis problemas que enfrentaremos adiante, quando o novo formato de educação pressupõe uma proximidade não cartesiana. Na educação contemporânea sujeito x objeto caminham juntos, pautada em uma relação de reciprocidade e respeito.
Afinal, quais os princípios primeiros do ato de educar. Ensinar a ler e escrever, ou ajudar o aluno a tornar-se e desenvolver-se enquanto cidadão ativo no mundo onde está inserido. A questão é profunda, ler e escrever são coadjuvantes de se tornar cidadão, ou o contrário?
À guisa de uma especulação essencialmente abstrata, a analogia entre médico e professor transcende a terminologia da palavra. Ao considerarmos uma hipotética situação elucida com mais clareza as proposições: Uma mulher fragilizada e com baixa auto estima, estimulada por um quase inconsciente desejo de viver, procura por um salão de beleza para os cuidados do corpo. Ao final do dia, após receber os serviços daqueles profissionais, vai para casa feliz, contrário a quando chegou, com a imunidade do seu organismo a níveis intoleráveis (acrescentando uma dose de exagero). Enfim, os profissionais cuidaram ou não da sua saúde, se considerado que por meio do trato da beleza aconteceu uma enorme descarga de endorfina levando-a ao prazer e ao bem estar? A analogia aqui é a mesma quando da atuação do professor imbuído no seu trabalho de ajudar a redimensionar os caminhos existenciais do seu aluno. Para entendermos as reais dimensões do que expomos, é fundamental um estudo sobre as complexidades do pensamento filosófico e científico vislumbradas pela corrente do pensamento intelectual predominante nos nossos dias. Fica assim recomendado.
Bem mais que o livro, bem mais que a técnica, bem mais que o saber instrumental, é a capacidade existente na articulação vertiginosa como fruto da comunicação entre as pessoas. Alterar os circuitos do organismo humano nem sempre requer pílulas dos laboratórios, mas princípios de verdade e referências axiológicas construídas sob laços de confiança e de amizade, de mistérios que se encontram alojados em uma relação síncrona com a qual nos deparamos diariamente com os nossos alunos, e na outra margem, com nós mesmos; com o quanto é preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas em meio a arquipélagos de certeza - como bem poetizou Edgar Morin, ao tratar dos Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro; bem como assim, diante de toda inquietude que acomete toda e qualquer relação na vida e na sala de aula.


Prof. Wilson Barbosa 


- Filósofo Clínico 
- Especialista em Tecnologias na Educação



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