segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Por Wilson Alves, Especialista em Consultoria Acadêmica e Professor Formador no NTE-Anápolis-GO


Internet é lugar de Autoria ou Plágio?

Antes mesmo de adentrarmos na dialéctica de discussão sobre o plágio e a produção de autoria, publicada aos milhares na rede mundial, convém pensar o processo subjacente à primeira, as quais os originais estão postados em um ambiente de interatividade cuja performance oferece suporte de versatilidade (publicação de textos, imagens, sons, gráficos, etc.) que por sua vez, vem sendo largamente utilizado no início do século XXI, nunca antes visto na história, sendo que o mais próximo que havia a essa versatilidade eram os livros e as enciclopédias impressas que, por natureza, não permitiam a participação contígua do usuário, ficando este como mero receptador das informações com ou sem a semântica necessária às suas necessidades. Antes mesmo de aventurarmos em render louvores ao deus da revolução tecnológica, a internet, convém suscitar uma crítica contundente ao que subjaz a “liberdade” de criação na rede, ou ainda da facilidade de plágio do que ali se encontra. Dificilmente no âmbito da navegação, o internauta pára para questionar sob os interesses econômicos que há como pano de fundo atrás do universo de softwares que são oferecidos como mecanismos de inclusão e estratégia para que a “liberdade universal” não seja tolhida mesmo às sociedades menos prestigiadas. Esse é um primeiro ponto.
A ambigüidade que encontramos na internet, ao mesmo tempo revolucionária por oferecer um novo status para a produção textual, gráfico, visual, permitindo às pessoas serem autoras dos seus projetos, constitui, paralelamente a essa revolução, um mecanismo de contraproposta à uma pedagogia escolar e de vida progenitora do incrível poder de emancipar o indivíduo, porque para a grande maioria dos usuários, de modo especial para a maturação das crianças, o desenvolvimento pedagógico fica a cargo de uma pedagogia oculta (SILVA, 1992, p. 125) a serviço do desenvolvimento político-tecnológico, que atendendo aos interesses capitalistas surrupia do cidadão a criticidade expontânea redundando a pedagogia à técnica, como se o desenvolvimento estritamente técnico fosse o motriz do crescimento econômico do país, politicamente falando. A questão fundamental é saber separar o status de supremacia das tecnologias das necessidades emergentes do mundo real. É necessário perguntar a que serve a pedagogia moderna. Não nos espanta saber que atrás do mercado globalizado há uma super-estrutura dominante, regido e manipulado pelo neoliberalismo, segregaria das sociedades pobres e miseráveis. Ademais, para alimentar os interesses atrozes desse movimento demoníaco, é necessário que haja o sacrifício de inocentes a seu serviço. Na China, milhares de adolescentes e jovens adultos trabalham 15 horas por dia a 65 centavos por hora, proibidos de falar ou ouvir música, em condições terríveis nas fábricas, onde fabricam hardware da Microsoft que é exportado para os Estados Unidos, Europa e Japão. Assim relata o National Labor Committee, que lançou ao grande publico três anos de entrevistas e fotografias dentro de fabricas da China.1
Voltando a atenção para a questão do plágio e para a produção de autoria, partimos primeiramente do princípio da máxima de Heráclito “ninguém pode banhar-se duas vezes no mesmo rio”. Dessa máxima deriva pensar os limites das habilidades e competências implícitas na criação, reprodução e inserção/adaptação de idéias na Web. Por mais absurdo que possa parecer, quando a pessoa vai à rede, plagia e apresenta uma pseuda produção, entretanto, passando-a por genuína e “acabada”, apesar da fraude, houve na sua gênese uma construção real. Real no que diz respeito ao modo próprio de representação da sua Estrutura de Pensamento2. Há ai a semântica das ausências, das reticências, dos silêncios que exigem interpretação, dentro da regra que toda interpretação será, por sua vez, reinterpretada.
Autoria precisa ser visualizada em sua excelência e fragilidade: é excelente, no horizonte da vida como reconstrução a partir do sujeito que forja a autonomia possível e conduz seu destino relativamente; é frágil, nos horizontes das realidades descartáveis, incompletas, passageiras, pois toda autoria é feita a partir de outras, um remix. (Pedro Demo. Habilidades del siglo XXI, pág.08).
A genuinidade encontra-se exatamente no linear entre a cópia e a criação, entre o desejo e a farsa, entre o imagético e o criativo. Isso não implica afiançar a prática do plágio, mas dar luz à questão em sua vertente epistemológica, à sagacidade intencional que se bem entendido pode contribuir no processo autogênico da dialéctica dos contrários. Uma pedagogia que busca equacionar um substrato puro e significativo como referência para o desenvolvimento da autoria democrática que leve ao verdadeiro sentido de conquista da cidadania, precisa compreender os significantes e significados que permeiam as bases econômicas, psicológicas, tecnológicas e políticas de seu tempo. Nesse sentido, tópicos estruturais que alicerçam a sociologia de uma época passa por diversas etapas e se equilibra sob muitas variantes. Isso quer dizer que o que a determina hoje, como por exemplo,  valores, crenças, suas características deterministas, podem não o ser amanhã. As variáveis periféricas, frágeis, antagônicas e invisíveis, mas reais, podem juntas convergir em força suficiente para determinar as direções das ações, inclusive de mercado – o que faz crescer vertiginosamente o interesse capitalista a partir da disseminação das tecnologias, inclusive através de tecnologias na pedagogia.
Esses são princípios filosóficos que precisam ser refletidos anteriormente ao simplismo presente na definição meramente gramatical de plágio. A primazia da autoria, publicação e realização na rede se constitui exatamente na ambiguidade que pode ser exaurida da reflexão sob a máxima que norteou parte da dialéctica presente nesse texto “ninguém pode banhar-se duas vezes no mesmo rio”. Então, até que ponto pode se falar em autoria genuína por excelência? 
 
Prof. Wilson Barbosa

- Filósofo Clínico 
- Especialista em Tecnologias na Educação
1 Fonte da informação e foto: http://videogamebrasileiro.blogspot.com/2010/04/adolescentes-chineses-trabalham-como.html
2 Estrutura de Pensamento: tudo aquilo que está na pessoa; organização dos elementos que compõem e sustentam os modos de ser de uma pessoa (www.filosofiaclinica.com.br)
Nota: Este texto responde proposta de atividade da disciplina Projeto Pedagógico Utilizando Ferramentas de Autoria, Unidade 1 – Ferramentas de autoria: definição, particularidades e vantagens. 
Turma GO-01- Especialização: Tecnologias na Educaçã0- PUC-Rio,
2009-2010.
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