sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Por Wilson Barbosa


O Psicopedagogo e o Currículo em uma Perspectiva Filosófica

A natureza e legalidade de ações propostas pelo governo, e por outro lado pela práxis administrativa da escola, obviamente é incumbência dos órgãos competentes: seja do Conselho Escolar, Órgãos Colegiados - quando legitimamente instituídos; seja das SEEs- Secretarias Estaduais e Municipais de Educação e assim por diante. Mas quanto a natureza epistemológica e filosófica das ações, são ínsitas ao profissional da psicopedagogia, o que não subtrai a participação de outros profissionais. O psicopedagogo ao analisar causa x efeito no que se refere às dimensões psíquicas de aprendizado do aluno; ao dimencionar o fenômeno da formação integral; os condicionantes da teoria x prática, enfim, tudo isso remete muitas vezes à necessidade de reorientação do currículo, portanto, urge que seja mobilizada toda uma equipe no sentido de averiguar possíveis discrepâncias no local em que se propõem mudanças e os possíveis resultados dessas ações para esse local.
Como base da estrutura do trabalho do psicopedagogo, o que o diferencia sobremaneira de um pesquisador acadêmico-teórico, teórico no sentido de não interpor ações práticas entre eventuais conceitos equívocos, o profissional da psicopedagogia trabalha com ferramentas capazes de apontar indícios de variáveis que possam ser incompatíveis à formação do aluno, de uma turma de alunos, de uma instituição escolar.
Talvez essas ferramentas constituam senão a única, uma das poucas maneiras informais de se trabalhar o currículo partindo para o novo, para o desafiador, para o criativo, levando a uma verdadeira ruptura de paradigmas e vícios sobrepostos a dogmas e doxas que não cabem mais à realidade da escola. Determinados conceitos somente tem sentido quando associados ao todo, quase nunca às partes, mas há excessões. A intenção de reorientar o currículo do ensino fundamental, por exemplo, precisa de ensaios, contextualização, mediação constante, flexibilização por parte dos docentes e da comunidade escolar. Nesse meio é que a ação do profissional da psicopedagogia se evidencia: na intermediação de todo o processo. Entretanto, há nesse ínterim de mediação certos limites de atuação, havendo ou não alteração curricular. Mas esses limites são específicos à causas clínicas, pouco ou nada associado ao trabalho interinstitucional.
Os limites que levam ao impedimento psicopedagógico surge quando a pessoa precisa ter sua liberdade interditada - hospitalização forçada, por exemplo. Ou quando mesmo em liberdade, não consegue responder por si mesmo do ponto de vista social: retardo mental, depressão crônica, fobias incapacitantes; em situações de AVC - Acidentes Vascular Cerebral, outros1. Fora dessas condições e, precipuamente na escola, o psicopedagogo precisa atinar para as causas que refletem o ensino-aprendizagem, então, fica em evidência o raio de ação que ele pode trabalhar na escola e o que a escola requer à vista de diferentes nuances: professores, gestores, funcionários, pais, estudantes e principalmente  com vistas a atuação própria do psicopedagogo, a instigação sobre os fenômenos que estão além do processo cognitivo. Essa é a primeira premissa desse profissional. Ao Conselho, cabe voz e voto, bem como deliberar com a participação dos demais atores envolvidos sobre a construção e gestão do PPP - Projeto Político Pedagógico no tocante a eventuais projetos de ação. Ao psicopedagogo, cabe a união de elementos físicos e abstratos à causa do processo de aprendizado. O fato final é que tudo isso, ou seja, agentes sociais e pedagogos, precisa estar juntos a um serviço: o aluno.
Ainda sobre os desafetos da escola, não é mais tolerável falar em mudança curricular, estratégia de ensino, projetos escolares onde prevaleça a ideia de segmentos separados, departamentalizados; em isolamento na escola. Não é mais possível perceber, por exemplo, o setor administrativo como algo que esteja fora do contexto pedagógico da escola, dentro do ambiente escolar todos participam do processo educativo, todos devem estar juntos em favor de uma mesma causa.
Nesse sentido, Padilha escreve:
Pensar o planejamento educacional é, em particular, o planejamento visando ao projeto político-pedagógico da escola e é, essencialmente, exercitar nossa capacidade de tomar decisões coletivamente. (PADILHA, 2001)
A razão de se estabelecer para o serviço do psicopedagogo atribuições que extrapolam o convencional (ensino x aprendizagem) é porque esse mesmo ensino x aprendizagem na rede escolar tem se alterado fenomenologicamente diante do quadro social em que vivemos:
Por isso, sobre a epistemologia Morin esclarece:
O conhecimento do conhecimento deve aparecer como necessidade primeira, que serviria de preparação para enfrentar os riscos permanentes de erros e de ilusão que não cessam de paralisar a mente humana. Trata-se de armar cada mente no combate vital rumo a lucidez (Morin, 2001: 14)
Para (Morin, 1997) mais do que o conteúdo básico, o aluno da escola básica precisa receber também conhecimentos que não estão diretamente linkados a conteúdos obrigatórios. Segundo o autor, conhecer métodos que permitam ao aluno enfrentar os obstáculos sociais e existenciais deveria ser a primeira opção dos currículos escolares. Com esse raciocínio, projeta-se mais uma vez a perspectiva de que o mecanismo de colheita de dados da comunidade escolar - uma ideia proposta em governos sérios a que pese à educação, constitui um farol que sirva de guia inspiratório para tomada de decisões. Assim, a partir de uma radiografia social, é possível estabelecer no interior da escola um panorama mais completo e, nesse sentido, construir métodos de ensino que leve ao aluno a possibilidade de conhecimento do conhecimento.
Em seu raciocínio o autor complementa:
Seria preciso ensinar estratégias que permitiriam enfrentar os imprevistos, o inesperado e a incerteza, e modificar seu desenvolvimento, em virtude das informações adquiridas ao longo do tempo. É preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas em meio a arquipélagos de certeza (Morin,, 2001:1).
O objetivo do autor certamente foi posicionar educadores, gestores e comunidade como um todo, que nesse caminho o ensino edificado com esses moldes e nessas competências permite a que os alunos alcancem a verdadeira autonomia, a aprenderem a fazer escolhas certas na vida, a inserem-se na sociedade com a maturidade esperada e por consequência, passarem a vivenciar em tese e em prática os preceitos da cidadania, deixando de serem espectro da sociedade, sendo tão somente cidadãos. Assim é sabido que (uma vez mais reutilizando os termos) quase sempre, esses adjetivos estão presentes no mundo da escola e fora dela.
E você, concorda com esses ideais e indagações psico-filosóficas?



Wilson Barbosa
Filósofo Clínico;

Especialista em Tecnologias na Educação
Técnico em Assuntos Educacionais do
IFTO - Inst. Federal do Tocantins,
Campus Porto Nacional

1 Conceito extraído do caderno “A” de estudos da Filosofia Clínica: Uma visão geral clínica: do instituto Packter, impressão própria. 1998, p. 29.

 
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