O
Psicopedagogo e o Currículo em uma Perspectiva Filosófica
A
natureza e legalidade de ações propostas pelo governo, e por outro
lado pela práxis administrativa da escola, obviamente é
incumbência dos órgãos competentes: seja do Conselho Escolar,
Órgãos Colegiados - quando legitimamente instituídos; seja das
SEEs- Secretarias Estaduais e Municipais de Educação e
assim por diante. Mas quanto a natureza epistemológica e filosófica
das ações, são ínsitas ao profissional da psicopedagogia, o que
não subtrai a participação de outros profissionais. O
psicopedagogo ao analisar causa x efeito no que se refere às
dimensões psíquicas de aprendizado do aluno; ao dimencionar o fenômeno da
formação integral; os condicionantes da teoria x prática, enfim,
tudo isso remete muitas vezes à necessidade de reorientação do
currículo, portanto, urge que seja mobilizada toda uma equipe no
sentido de averiguar possíveis discrepâncias no local em que se
propõem mudanças e os possíveis resultados dessas ações para esse local.
Como
base da estrutura do trabalho do psicopedagogo, o que o diferencia sobremaneira de
um pesquisador acadêmico-teórico, teórico no sentido de não
interpor ações práticas entre eventuais conceitos equívocos, o
profissional da psicopedagogia trabalha com ferramentas capazes de apontar indícios
de variáveis que possam ser incompatíveis à formação do aluno, de uma
turma de alunos, de uma instituição escolar.
Talvez
essas
ferramentas
constituam senão
a única, uma das poucas
maneiras
informais
de se trabalhar o currículo
partindo
para o novo, para o desafiador,
para o
criativo, levando a uma verdadeira ruptura
de paradigmas
e
vícios sobrepostos a dogmas e
doxas que não cabem mais à realidade da escola.
Determinados conceitos somente tem sentido quando associados ao todo,
quase nunca
às partes, mas há excessões.
A intenção de reorientar o
currículo do ensino fundamental, por
exemplo, precisa de ensaios,
contextualização, mediação constante, flexibilização por parte
dos docentes e da comunidade escolar. Nesse meio é que a ação do
profissional da psicopedagogia se evidencia: na intermediação de
todo o processo. Entretanto, há nesse ínterim de mediação certos
limites de atuação, havendo ou não alteração curricular. Mas
esses limites são específicos à causas clínicas, pouco ou nada
associado ao
trabalho interinstitucional.
Os limites que levam ao
impedimento psicopedagógico
surge
quando a pessoa precisa ter sua liberdade interditada - hospitalização
forçada, por exemplo. Ou quando mesmo em liberdade, não consegue
responder por si mesmo do
ponto de vista social: retardo mental, depressão crônica, fobias incapacitantes;
em situações de AVC - Acidentes Vascular Cerebral, outros1.
Fora dessas condições e, precipuamente na escola, o psicopedagogo
precisa atinar para as causas que refletem o ensino-aprendizagem, então, fica em evidência o raio de ação que ele pode trabalhar na escola e o
que
a escola requer à
vista de diferentes nuances: professores, gestores, funcionários,
pais, estudantes e principalmente com vistas a atuação própria do psicopedagogo, a
instigação sobre
os fenômenos que estão além do processo cognitivo. Essa é a primeira premissa desse profissional. Ao
Conselho, cabe voz e voto, bem
como deliberar com a participação dos demais atores envolvidos sobre a construção e gestão do PPP -
Projeto
Político
Pedagógico no tocante a eventuais projetos de ação.
Ao psicopedagogo, cabe a união de elementos físicos e abstratos à causa do processo de aprendizado. O fato final é
que tudo isso, ou seja, agentes sociais e pedagogos, precisa estar juntos a um serviço: o aluno.
Ainda sobre os desafetos da escola, não
é mais tolerável falar em mudança curricular, estratégia de
ensino, projetos escolares onde prevaleça a ideia de segmentos
separados, departamentalizados; em isolamento na escola. Não é mais possível perceber, por
exemplo,
o setor administrativo como algo que esteja
fora do contexto pedagógico da escola, dentro do ambiente escolar todos participam do processo educativo, todos devem estar juntos em favor de uma
mesma causa.
Nesse sentido, Padilha escreve:
Pensar
o planejamento educacional é, em particular, o planejamento visando
ao projeto político-pedagógico da escola e é, essencialmente,
exercitar nossa capacidade de tomar decisões coletivamente.
(PADILHA, 2001)
A
razão de se estabelecer para o serviço do psicopedagogo atribuições
que extrapolam o convencional (ensino x aprendizagem) é porque esse
mesmo ensino x aprendizagem na rede escolar tem se alterado fenomenologicamente diante do
quadro social em que vivemos:
Por isso, sobre a epistemologia Morin esclarece:
O
conhecimento do conhecimento deve aparecer como necessidade primeira,
que serviria de preparação para enfrentar os riscos permanentes de
erros e de ilusão que não cessam de paralisar a mente humana.
Trata-se de armar cada mente no combate vital rumo a lucidez (Morin,
2001: 14)
Para
(Morin, 1997) mais do que o conteúdo básico, o aluno da escola
básica precisa receber também conhecimentos que não estão diretamente linkados
a conteúdos obrigatórios. Segundo o autor, conhecer métodos que
permitam ao aluno enfrentar os obstáculos sociais e existenciais
deveria ser a primeira opção dos currículos escolares. Com esse raciocínio, projeta-se mais uma vez a perspectiva de que o
mecanismo de colheita de dados da comunidade escolar - uma ideia proposta em
governos sérios a que pese à educação, constitui um farol que sirva de guia
inspiratório para tomada de decisões. Assim, a partir de uma
radiografia social, é possível estabelecer no interior da escola um
panorama mais completo e, nesse sentido, construir métodos de ensino
que leve ao aluno a possibilidade de conhecimento do conhecimento.
Em
seu raciocínio o autor complementa:
Seria
preciso ensinar estratégias que permitiriam enfrentar os
imprevistos, o inesperado e a incerteza, e modificar seu
desenvolvimento, em virtude das informações adquiridas ao longo do
tempo. É preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas em
meio a arquipélagos de certeza (Morin,, 2001:1).
O objetivo do
autor certamente foi posicionar educadores, gestores e comunidade
como um todo, que nesse caminho o ensino edificado com esses moldes e
nessas competências permite a que os alunos alcancem a verdadeira autonomia,
a aprenderem a fazer escolhas certas na vida, a inserem-se na sociedade com
a maturidade esperada e por consequência, passarem a vivenciar em tese e em prática os
preceitos da cidadania, deixando de serem espectro da sociedade, sendo tão somente cidadãos. Assim é sabido que (uma vez mais reutilizando os termos) quase sempre, esses adjetivos estão presentes no mundo da escola e fora dela.
E
você, concorda com
esses ideais e indagações psico-filosóficas?
Wilson Barbosa
Filósofo Clínico;
Especialista em Tecnologias na Educação
Técnico em Assuntos Educacionais do
IFTO - Inst. Federal do Tocantins,
Campus Porto Nacional
Filósofo Clínico;
Especialista em Tecnologias na Educação
Técnico em Assuntos Educacionais do
IFTO - Inst. Federal do Tocantins,
Campus Porto Nacional
1
Conceito extraído do
caderno “A” de estudos da
Filosofia Clínica: Uma
visão geral clínica: do instituto Packter,
impressão própria. 1998, p. 29.