segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Por Wilson Barbosa

INSTITUTOS FEDERAIS DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Aspectos Importantes na Formação do Técnico

Atualmente, investido na tarefa de estudar PPCs - Projetos Pedagógicos de Cursos, de trabalhar em Análises e emissão de Pareceres, atualização e renovação de PPCs de Cursos Técnicos, na prática, constatou-se a necessidade de ampliar o jogo hermenêutico das questões subjetivas implícitas no processo. O intuito, em parte, tem sido dinamizar o entendimento de questões não tão conclusivas à luz da Legislação acerca de características importantes e não tão visíveis, as quais influenciam a formação técnica.
Nessa linha, o artigo dialoga com educadores, com aspirantes à formação profissional em nível técnico e com aqueles que desejam pensar o processo educativo. Tamanha é a notoriedade pública que o curso técnico, seja na modalidade Integrada, Concomitante ou Subsequente vem ganhando, prioridades do Projeto Pedagógico que delimita as diretrizes do curso precisam ir ao contraditório e às vozes conciliadoras.
Dentre tantos pontos do PPC passíveis de arguição, é imprescindível discutir objetivos gerais e específicos. O entendimento subjacente aos objetivos volta-se a um ponto nevrálgico: conhecer e a fazer-se conhecer por meio da demonstração empírica de que o Estado, cidade, ou macrorregião realmente necessita do campo do saber dessa ou daquela área de formação. Em outras palavras, fundamentar com proficiência se há ‘mercado’ para os profissionais da área.  Antes da existência do curso, é notória a necessidade de estudos prévios que reforcem a tese de que haverá consolidação junto ao setor secundário da economia, do agronegócio, da indústria e serviços.
Dando corpo a essa discussão, atualmente está em evidência no país, e em particular, no meio acadêmico, a sigla APL.  Os APLs são os Arranjos Produtivos Locais. Os arranjos são norteadores de onde fluem as prerrogativas que justificam a formação do Profissional em determinada área. São variantes de temas e assuntos diferentes, e é exatamente por isso que chama a atenção a associar aos objetivos propostos em Projetos de Cursos. Em síntese, os objetivos podem ser entendidos como sendo aqueles que traduzem as intenções educativas; que indicam o que se espera alcançar como consequência do processo, e por fim, o entendimento em quê deve ser formado o profissional, tendo em vista o perfil estabelecido no Projeto Pedagógico. Não houvesse os APLs ou qualquer outra modalidade de colheita de dados voltados à projeção do setor produtivo, os objetivos e a consequente formação do profissional, estariam fadados a serem estáticos formadores de “homens robôs” acríticos e de formação em série, nos moldes do Fordismo. Para quê criticidade! Algo muito triste de um passado não tão remoto.
Ao contrário, no cenário do desenvolvimento econômico, na intrepidez com que os sinalizadores educativos indicam a necessidade de formação de profissionais críticos, autônomos e empreendedores, sugere que os cursos, inclusive Cursos Técnicos, se proponham a desenvolver no educando competências e habilidades que visam atender as diferentes necessidades do mercado de trabalho. Diferentes necessidades? Quais? Essa é a leitura que se deve ter ante as distintas opções de formação. O Projeto Pedagógico não omite as informações mínimas a despeito das formas, objetivos e direitos de ingresso ao curso. É nele que se apoiam as diretrizes gerais, mas também as específicas que respondem a pergunta. 
Para amenizar essas questões, os encaminhamentos básicos dos cursos são discriminados no Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos[1], farol distante, mas comprometido com a garantia mínima de organização curricular em todo o país. Quanto as Competências e Habilidades, é imprescindível que as competências, além das qualidades previstas do Ensino Médio, contemplem também aquelas previstas no Eixo Tecnológico correspondente, conforme estabelecido no referido Catálogo Nacional. Assim preconiza a Legislação. Como aquela (ensino médio) mantém horizontes transdisciplinares, sugerindo que o estudante obtenha do referido grau de ensino ampla leitura de mundo, agregando elementos das ciências exatas e das ciências humanas, assim também essa (ensino técnico) prevê conhecimentos que transcendam as especificidades meramente técnicas da profissão. O Catálogo reúne, a priori, focos gerais que vão desde ética ambiental até sustentabilidade e sociabilidade. Esse cenário é a dimensão subjetiva que se almeja fazer entender aqui. Essas características são necessárias ao exercício tanto da profissão, quanto ao modo de desempenho do Técnico presumidamente preocupado e cônscio das suas responsabilidades sociais. Ao menos é o que se espera do novo técnico que deve insurgir meio ao momento em que o país e o mundo aspiram e comungam, entre outros, três ideais utópicos e necessários: a capacidade de relacionamento interpessoal, o trabalho em equipe, a capacidade de abertura à solidariedade humana em essência. Concomitantemente, esses perfis conciliam aos propósitos do exercício da criatividade, da invencionice e do espírito de iniciativa. O domínio dessas qualidades eleva o status do técnico à profissional preparado para relacionar-se com a sociedade tecnológica ávida por profissionais que garanta a competência exigida pela nova forma de trabalho que é pautada na inteligência prática, de modo a exaurir as maiores potencialidades do produto da construção humana. Essa não é apenas uma maneira melodiosa, poética ou meramente sofismática de dizer do trabalho, mas uma maneira de desmistificar a ideia escravocrata do serviço. O trabalho quando realçado com a inspiração, o talento, o saber-fazer, cria novo sentido e rompe com o rótulo de operacionalização, apenas. O sujeito torna-se participante ativo no processo da construção. A coisa produzida passa de produto à criação. Com efeito, essa transformação se dá solidariamente através de pessoas e não de empregados.
Esse sentido é o que preconiza a LDB – Leis de Diretrizes e Bases. Esses são os profissionais novos e engajados em um novo ethos cultural, formado nos Institutos Federais de Ciência e Tecnologia em todo o território nacional.
De modo especial, a associação das Habilidades junto as Competências, uma vez implantadas, levará em conta, não somente os conhecimentos formais, mas a toda gama de aprendizagens auto interiorizadas advindas das experiências vividas, as quais constituem a subjetividade singular da pessoa, agregando valores que coadunam com a estética da sensibilidade. Tudo isso tem a ver com a proposta dos Institutos Federais,  com a organização curricular dos cursos existentes, com o projeto de curso, mas deve também estar presente em qualquer instituição que se proponha, segundo o olhar desse artigo, a formar profissionais nesse nível de qualificação.
Tudo isso deve produzir e informar quanto à contextualização do conhecimento. Envolve, além da contextualização em si, a incorporação da interdisciplinaridade, da transdisciplinaridade, da prática, do fazer pedagógico. A proposta da natureza epistemológica está intimamente relacionada ao modus operandi em que se dá a passagem entre os saberes de um componente a outros saberes pertencentes ao mesmo núcleo e a itinerário de núcleos diferentes; a componentes da mesma esfera, ciclo ou campo do saber e à mescla de tudo isso. Enfim, o enfoque pluralista do conhecimento converge ao real significado da transcendência entre conjuntos de componentes distintos, caracterizando a intenção Transdisciplinar. Em Nicolau (1999), o prefixo “Trans.” indica a Transdisciplinaridade, que na prática, diz respeito ao que está, ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas, e além de todas as disciplinas. Entendendo o autor, o objetivo é a compreensão do mundo presente, e um dos imperativos é a unidade do conhecimento.
É como dizer que todas as disciplinas precisam, por exemplo, contemplar a cultura e História afro-brasileira, africana e indígena; o estatuto do idoso; a responsabilidade ambiental e educação especial, mantendo o tom Interdisciplinar. Aliás, a práxis da Trans, é premente na RESOLUÇÃO Nº 6 da Câmara de Educação Básica, de Dezembro de 2012:

(...) que estes cursos devem atender às diretrizes e normas nacionais definidas para a modalidade específica, tais como Educação de Jovens e Adultos, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombola, educação de pessoas em regime de acolhimento ou internação e em regime de privação de liberdade, Educação Especial e Educação a distância. (...) o curso deve contemplar o reconhecimento das identidades de gênero e étnicorraciais, assim como dos povos indígenas, quilombolas e populações do campo (...).

Espera-se, com base na Resolução, nas manifestações da sociedade, nos discursos acalorados, e nessa dimensão, que a possibilidade de organização curricular, atendendo distintos itinerários formativos, em função da estrutura sócio ocupacional e tecnológica consonantes com as políticas públicas indutoras, e aos arranjos sócio produtivos e culturais locais, que aconteça em larga escala a compreensão da unidade no mundo contemporâneo. Esse é o entendimento subjacente à Organização Curricular como um todo, aos Objetivos Gerais e aos Objetivos Específicos e respectivos desdobramentos destes. Esse é o entendimento do artigo.


Abraços educativos,

Wilson Barbosa
-Filósofo Clínico
 Registro Profissional - 0585 W
-Esp. em Tecnologias na Educação
-Técnico em Assuntos Educacionais
 Pró-Reitoria de Ensino
 EAD - Educação a Distância
IFTO - Instituto Federal do Tocantins - Palmas

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