segunda-feira, 1 de abril de 2013

Por Wilson Barbosa


O PERCEPCIONAR E OS MODOS DE APREENDER O MUNDO NO MEU INTELECTO

Lições Iniciais de Filosofia Clínica na Educação

É curioso observar as circunstâncias que se nos apresentam e as divergências de olhares quanto a percepção dos fatos em si; sobre a minha leitura e a leitura do outro quanto ao mundo, tal o conhecemos. Aquilo que me parece estranho e escandaloso pode bem ser as delícias dos olhos de uma outra pessoa; a menina preciosa para os olhos de alguém. O que é desabrido para mim, pode ser exatamente aquilo que tem delicadeza, efeito, sentido para a vida de outra pessoa. Aquilo em que acredito, que eu aprendo, admiro, pode ser tudo nessa vida, pode ter um valor imensurável ou nenhum valor, e isso é assim para você também, a depender do modo como é a Representação de mundo para você. Em geral, essa é uma maneira da alma tentar entender a natureza sensível das coisas, de tantas coisas, coisas que se fala, coisas que se sente, coisas que tocamos.

As divergências e antagonismos previstos não acontecem apenas nas coisas que eu observo ou posso observar, mas nas coisas que ainda não se apresentaram a mim. E quais as coisas que ainda não se apresentaram a mim? - tudo que ainda está no devir, no por vir e que tocará a minha percepção e, nessa acolhida, serão elucidadas. Coisas difíceis de entender! coisas que tocará a minha percepção e eu as apreenderei, seria isso? Ou seria o contrário, coisas que a minha percepção tocará para que elas verdadeiramente se apresentem a mim e só aí tomarei posse delas? Vamos adiante nas interpelações. É o sujeito que vai até o objeto, ou o objeto é que se dá a conhecer ao sujeito? Por enquanto, sem resposta, mas de um modo ou de outro, as coisas que aprenderei serão deitadas sob o meu intelecto seguindo as premissas da minha episteme particular, isso é inegociável. Episteme? Palavra rebuscada para se falar em aprender!

Considerando todas essas coisas em Prosa Poética, na primeira ideia ou parágrafo, não importa, convergimos à tempos tão remotos, mais ou menos lá pelos arcaicos anos 1800, faz tempo. Nessa época havia um homem, um filósofo que se chamava Arthur Shoppenhauer. Ele dizia que são o corpo e o sentimento que permitem alcançar e dizer o sentido das coisas, de qualquer coisa, o que para ele se chama vontade. Algo que faz explicar quando uma coisa é boa, feio, amável, áspero, inteligível à pessoa. Mas observe o contexto, é assim para Shoppenhauer. E se é assim específico para ele, significa com clareza que pode não ser para o sujeito que está bem aí na mesa ao lado, não é mesmo? E porque haveria de ser. Fácil de compreender, não é? Curioso pensar, mas existe uma terceira opção para o entendimento do problema, e que se apresenta como resposta omitida a bem pouco. Essa alternativa se mostra timidamente, mas com força para sacudir o nosso entendimento: É a interação. Isso mesmo, talvez eu não vá até o objeto e nem este venha até mim, talvez se encontrem em um meio termo. Algo surreal, quase metafísico, ironicamente falando. Na união do sujeito x objeto pode haver um microssegundo mágico que só a sensibilidade da alma saboreia, e ao saboreá-la resplandece a luz do saber. Nossa!... isso poderia mesmo acontecer assim? Será?

Na segunda ideia, e também já falando em uma outra coisa, o que mexe de fato com a minha percepção, uma vez que inferimos sobre percepção, é sobre os modos de aprendizado variados do ser humano. Bacana dizer sobre isso, porque abre os sentidos para pensar no modo como os próprios sentidos adquirem o material do pensamento. Entendeu não? “o modo como os sentidos experimenta e experiencia as coisas”. Já parou para percepcionar isso? Quase coisas para rir, não é? Quem é que pára para pensar no próprio pensamento. Maluquices? Talvez! Locke e outra meia dúzia de sujeitos filósofos debruçavam horas, dias e até anos a fio atrás de respostas para essas coisas. Coisas que até soam sem razão, mas coisas que mesmo em nossos dias o mundo não tem respostas à algumas das muitas proposições colocadas por esses homens!

O Filósofo John Locke era um sujeito que afirmava que todas as nossas ideias tinham origem no que era percebido pelos sentidos. Mas... para que servia isso? Para ele, através da percepção um indivíduo organiza e interpreta as suas impressões sensoriais para atribuir significado ao seu meio. Consiste em aquisição, interpretação, seleção e organização das informações obtidas pelos sentidos. Seria isso que acontece normalmente na escola e nem nos damos conta? Será que essas coisas podem ser úteis para ensinar as crianças e jovens desde os meandros das ciências até a poesia da descoberta da vida? E para a vida de quem já tá pra lá da escola, presta para alguma coisa?

Bem, olhemos as crianças. Quando o mundo se apresenta a ela nos seus mais variados contornos e cores, a criança olha, interage, toca, sente e experiencia. Por qual dessas percepções ela realmente aprende e apreende o objeto? Por qual desses ou outros mecanismos é seguro afirmar que ela conseguirá tomar ciência dos fatos? Você sabe leitor? Arrisca dizer? Há um caminho ou há caminhos? Há a polivalência de um modo em detrimento a outro, ou equivalem-se em significado, importância e sentido para a pessoa? O que posso dizer é que é possível fazer uma ponte a partir dessa pergunta a algo substancialmente provocante: Uma criança de dois anos vê o fogo exaurindo a cera de uma vela. Esse fogo apresenta cores vibrantes, coloridas, moldáveis, lindas, remonta um belo mosaico, um arco-íris. Sua tendência natural é tocá-la, tomar para si, e se o fizer, quanto as consequências não precisamos filosofar. A Filosofia será necessária a partir do momento em que haja mais capacidade de abstração, a então pensarmos que temos o controle absoluto do conhecimento, das coisas e, com ousadia, poderia dizer até mesmo pensarmos que temos total controle da nossa vida - o que não equivale a dizer que não se deva valorar o planejamento de vida e a compreensão da maneira como funcionamos existencialmente. A Filosofia será precisa quando pensarmos que deciframos as ciências físicas e humanas em toda a sua extensão e segredos; quando perdermos as referências e a humanidade diante da força do caos, do indecifrável, do intangível. A perda dessa humanidade é no sentido em que Immanoel Kant dizia que não temos capacidades cognoscitivas para acessar o inefável, advertindo-nos sobre os limites da razão. Se pensarmos que somos semideuses, pensamos errado porque não somos, ao mesmo tempo, não seremos também humanos demasiadamente humanos, na acepção nietzschiana . Enfim, o que sobra? Desde que haja incômodo, há jeito para essa questão! Há saídas, muitas vezes à custa de muito trabalho e, em muitos casos, há a necessidade de ajuda com psicoterapia clínico-filosófica.

É bom saber quais são as dimensões possíveis para que os sentidos tomem nota daquilo que passa por mim em essência, seja na manipulação da droga mais poderosa ou na observação da delicada metamorfose pela qual a lagarta vira borboleta. Sabendo um pouco mais dessas dimensões cognitivas, mesmo àqueles que já estão pra lá da escola, pode levar mais cor à vida e torná-la mais leve.

Agora vamos falar do aprendizado sem rodeios. Acreditem, eu posso chegar ao limite possível do conhecimento por meio do domínio, força, propensão das minhas Paixões Dominantes. Posso chegar através das minhas Emoções, através das coisas que eu acredito, da minha Fé, das minhas Abstrações, do Corpo, da Mente e por caminhos assim quase indefinidamente, o que não tem nada a ver com a observação, experimentação e comprovação empírica exigida pelas ciências exatas. São quanto aos caminhos subjetivos a que fazemos referência. Lembra quando acima é questionado por que meio efetivamente ocorre o aprendizado? Eu posso conhecer os fenômenos por meio da observação científica, do lúdico, da arte, da estética ou de outra forma que nem há nome usual. A criança e o jovem podem ter a experiência mais linda das suas vidas através do caminho da empatia, da amizade com aqueles em quem confiam. Isso é a interseção boa, no mínimo razoável, que os aproximam e abre espaço ao saber, o que equivale a dizer que essa interseção seria o conduíte por onde filtra o seu modo pessoal, genuíno de entender, ou ainda, nada disso pode fazer sentido à pessoa. Pode ser que aprendam a iniciação das leis da física por meio do discurso do professor e memorizem tudo como se tivessem um computador na cabeça. Outras pessoas podem passar anos tentando ser exímios em determinada arte, tentando estudar cartesianamente as metodologias prontas de quaisquer coisas, quando tudo o que precisavam era questionar os porquês que estavam por detrás dos fenômenos (epistemologia), então o aprendizado se tornaria algo simples e natural. É fácil saber que dentro da palavra epistemologia, a qual tem sua origem no grego “ἐπιστήμη” aportuguesado significa desse jeito: episteme = conhecimento, Logos = estudo, assim, estudo do conhecimento ou teoria do conhecimento. muitos tipos de desdobramentos até chegar ao fim desejado.

Tem muitas alternativas e caminhos para que eu e você interaja com tudo o que nos cerca. É algo tão inusitado que algumas vezes esse caminho é a combinação de dois ou mais modos sugeridos acima. Mas o que realmente precisa ficar elucidado é que cercear a liberdade de que uma pessoa fique “amigo” de qualquer forma epistemológica em toda a sua riqueza, é assassinar génios em potencial. É deflagrar a falência do futuro; é invadir os espaços invisíveis criados por Deus e rebelar-se contra a sabedoria armazenada pelos séculos passados. A epistemologia exercida por cada pessoa é pessoa, e sufocá-la é tirar a oportunidade do ser humano conquistar o impossível. Fato que é verossímil para qualquer pessoa: alunos, filhos, pais, empresários, funcionários, artistas, médicos, intelectuais, os quais livres, frutificam dez por um sua criatividade. Entenda, epistemologia e seus desdobramentos é apenas uma entre tantas e tantas outras possibilidades para a aquisição do conhecimento.

Talvez a história do sujeito tocar o objeto ou o objeto tocar a percepção da pessoa, ou ambos se encontrarem, talvez todo esse assunto de existir diversas maneiras de conhecer as coisas seja algo muito estranho a você, ou talvez você tenha provas quase inequívocas de que não é assim e que tudo isso se processe e funcione de uma outra maneira. Pode ser! Mas também pode ser que seja exatamente as suas verdades e maneiras epistemológicas subjetivas que faça com que você leia, enxergue e acredite que as coisas são assim como você as enxerga, incluindo desacreditar nessa abordagem. Mas é talvez e só talvez. Mas talvez também isso que eu acabo de dizer seja o que ocorre subjetivamente comigo e não com você. Nossa, que mistura para bolo!!! E agora? É a minha ou a sua subjetividade que impera? Mais do que isso... do que mesmo eu realmente estou falando? Vou tentar me explicar. Talvez você não abra a percepção a essas possibilidades em função dos seus Princípios de Verdade, quem sabe! Quem sabe seja por causa dos seus Pré-Juízos. Sabe o que são essas coisas, 'Princípios de Verdade', 'Pré-Juízos' escritos bem assim desse jeito? Mas também talvez eles sejam meus e não seus, talvez por isso você não saiba. Não tanto quanto as nomenclaturas, mas quanto aos significados.

Esses questionamentos finais dão margem para especular sobre outros desdobramentos que não dá para explicar agora, umas tais coisas chamadas Estrutura de Pensamento e Submodos Informais. Que tal falarmos um pouco mais sobre tudo isso num outro dia e termos uma percepção ainda maior?

* Baixe gratuitamente e Leia a obra Filosofia Clínica (propedêutica) do Drº. Lúcio Packter, em: http://www.luciopackter.com.br/ ou http://anfic.org/

Como sempre, um afetuoso abraço!
 
Wilson Barbosa
Filósofo Clínico
Técnico em Assuntos Educacionais
IFTO - Instituto Federal do Tocantins
Campus Porto Nacional - TO
 
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