O
PERCEPCIONAR E OS MODOS DE APREENDER
O MUNDO NO MEU INTELECTO
Lições
Iniciais de Filosofia Clínica na Educação
É
curioso observar as circunstâncias que se nos apresentam e as
divergências de olhares quanto a percepção dos fatos em si; sobre
a minha leitura e a leitura do outro quanto ao mundo, tal o
conhecemos. Aquilo que me parece estranho e escandaloso pode bem ser
as delícias dos olhos de uma outra pessoa; a menina preciosa para os
olhos de alguém. O que é desabrido para mim, pode ser exatamente
aquilo que tem delicadeza, efeito, sentido para a vida de outra
pessoa. Aquilo em que acredito, que eu aprendo, admiro, pode ser tudo
nessa vida, pode ter um valor imensurável ou nenhum valor, e isso é
assim para você também, a depender do modo como é a Representação
de mundo para você. Em geral, essa é uma maneira da alma tentar
entender a natureza sensível das coisas, de tantas coisas, coisas
que se fala, coisas que se sente, coisas que tocamos.
As
divergências e antagonismos previstos não acontecem apenas nas
coisas que eu observo ou posso observar, mas nas coisas que ainda não
se apresentaram a mim. E quais as coisas que ainda não se
apresentaram a mim? - tudo que ainda está no devir,
no por vir e que tocará a minha percepção e, nessa acolhida, serão
elucidadas. Coisas difíceis de entender! coisas que tocará a minha
percepção e eu as apreenderei, seria isso? Ou seria o contrário,
coisas que a minha percepção tocará para que elas verdadeiramente
se apresentem a mim e só aí tomarei posse delas? Vamos adiante nas
interpelações. É o sujeito que vai até o objeto, ou o objeto é
que se dá a conhecer ao sujeito? Por enquanto, sem resposta, mas de
um modo ou de outro, as coisas que aprenderei serão deitadas sob o
meu intelecto seguindo as premissas da minha episteme
particular, isso é inegociável. Episteme? Palavra rebuscada para se
falar em aprender!
Considerando
todas essas coisas em Prosa Poética, na primeira ideia ou parágrafo,
não importa, convergimos à tempos tão remotos, mais ou menos lá
pelos arcaicos anos 1800, faz tempo. Nessa época havia um homem, um
filósofo que se chamava Arthur Shoppenhauer. Ele dizia que são o
corpo e o sentimento que permitem alcançar e dizer o sentido das
coisas, de qualquer coisa, o que para ele se chama vontade. Algo que
faz explicar quando uma coisa é boa, feio, amável, áspero,
inteligível à pessoa. Mas observe o contexto, é assim para
Shoppenhauer. E se é assim específico para ele, significa com
clareza que pode não ser para o sujeito que está bem aí na mesa ao
lado, não é mesmo? E porque haveria de ser. Fácil de compreender,
não é? Curioso pensar, mas existe uma terceira opção para o
entendimento do problema, e que se apresenta como resposta omitida a
bem pouco. Essa alternativa se mostra timidamente, mas com força
para sacudir o nosso entendimento: É a interação.
Isso mesmo, talvez eu não vá até o objeto e nem este venha até
mim, talvez se encontrem em um meio termo. Algo surreal, quase
metafísico, ironicamente falando. Na união do sujeito x objeto pode
haver um microssegundo mágico que só a sensibilidade da alma
saboreia, e ao saboreá-la resplandece a luz do saber. Nossa!... isso
poderia mesmo acontecer assim? Será?
Na
segunda ideia, e também já falando em uma outra coisa, o que mexe
de fato com a minha percepção, uma vez que inferimos sobre
percepção, é sobre os modos de aprendizado variados do ser humano.
Bacana dizer sobre isso, porque abre os sentidos para pensar no modo
como os próprios sentidos adquirem o material do pensamento.
Entendeu não? “o
modo como os sentidos experimenta e experiencia as coisas”.
Já parou para percepcionar isso? Quase coisas para rir, não é?
Quem é que pára para pensar no próprio pensamento. Maluquices?
Talvez! Locke e outra meia dúzia de sujeitos filósofos debruçavam
horas, dias e até anos a fio atrás de respostas para essas coisas.
Coisas que até soam sem razão, mas coisas que mesmo em nossos dias
o mundo não tem respostas à algumas das muitas proposições
colocadas por esses homens!
O
Filósofo John Locke era um sujeito que afirmava
que todas as nossas ideias tinham origem no que era percebido pelos
sentidos.
Mas... para que servia isso? Para ele, através
da percepção um indivíduo organiza e interpreta as suas impressões
sensoriais para atribuir significado ao seu meio. Consiste em
aquisição, interpretação, seleção e organização das
informações obtidas pelos sentidos. Seria isso que acontece
normalmente na escola e nem nos damos conta? Será que essas coisas
podem ser úteis para ensinar as crianças e jovens desde os
meandros das ciências até a poesia da descoberta da vida? E para a
vida de quem já tá pra lá da escola, presta para alguma coisa?
Bem,
olhemos
as crianças. Quando o mundo se apresenta a ela nos seus mais
variados contornos e cores, a criança olha, interage, toca, sente e
experiencia. Por qual dessas percepções ela realmente aprende e
apreende
o objeto? Por qual desses ou outros mecanismos é seguro afirmar que
ela conseguirá tomar ciência dos fatos? Você sabe leitor? Arrisca
dizer? Há um caminho ou há
caminhos?
Há a polivalência de um modo em detrimento a outro, ou equivalem-se
em significado, importância e sentido para a pessoa? O que posso
dizer é que é possível fazer uma ponte a partir dessa pergunta a
algo substancialmente provocante: Uma criança de dois anos vê o
fogo exaurindo a cera de uma vela. Esse fogo apresenta cores
vibrantes, coloridas, moldáveis, lindas, remonta um belo mosaico, um
arco-íris. Sua tendência natural é tocá-la, tomar para si, e se o
fizer, quanto as consequências não precisamos filosofar. A
Filosofia será necessária a partir do momento em que haja mais
capacidade de abstração, a então pensarmos que temos o controle
absoluto do conhecimento, das coisas e, com ousadia, poderia dizer
até mesmo pensarmos que temos total controle da nossa vida - o que
não equivale a dizer que não se deva valorar o planejamento de vida
e a compreensão da maneira como funcionamos existencialmente. A
Filosofia será precisa quando pensarmos que deciframos as ciências
físicas e humanas em toda a sua extensão e segredos; quando
perdermos as referências e a humanidade diante da força do caos, do
indecifrável, do intangível. A perda dessa humanidade é no sentido
em que Immanoel Kant dizia que não temos capacidades cognoscitivas
para acessar o inefável, advertindo-nos sobre os limites da razão.
Se pensarmos que somos semideuses, pensamos errado porque não somos,
ao mesmo tempo, não seremos também humanos demasiadamente humanos,
na acepção nietzschiana
. Enfim, o que sobra? Desde que haja incômodo, há jeito para essa
questão! Há saídas, muitas vezes à custa de muito trabalho e, em
muitos casos, há a necessidade de ajuda com psicoterapia clínico-filosófica.
É
bom saber quais são as dimensões possíveis para que os sentidos
tomem nota daquilo que passa por mim em essência, seja na
manipulação da droga mais poderosa ou na observação da delicada
metamorfose pela qual a lagarta vira borboleta. Sabendo um pouco mais
dessas dimensões cognitivas, mesmo àqueles que já estão pra lá
da escola, pode levar mais cor à vida e torná-la mais leve.
Agora
vamos falar do aprendizado sem rodeios. Acreditem, eu posso chegar ao
limite possível do conhecimento por meio do domínio, força,
propensão das minhas Paixões Dominantes. Posso chegar através
das minhas Emoções, através das coisas que eu acredito, da minha
Fé, das minhas Abstrações, do Corpo, da Mente e por caminhos assim
quase indefinidamente, o que não tem nada a ver com a observação,
experimentação e comprovação empírica exigida pelas ciências
exatas. São quanto aos caminhos subjetivos a que fazemos referência.
Lembra quando acima é questionado por que meio efetivamente ocorre o
aprendizado? Eu posso conhecer os fenômenos por meio da observação
científica, do lúdico, da arte, da estética ou de outra forma que
nem há nome usual. A criança e o jovem podem ter a experiência
mais linda das suas vidas através do caminho da empatia, da amizade
com aqueles em quem confiam. Isso é a interseção boa, no mínimo
razoável, que os aproximam e abre espaço ao saber, o que equivale a
dizer que essa interseção seria o conduíte por onde filtra o seu
modo pessoal, genuíno de entender, ou ainda, nada disso pode fazer
sentido à pessoa. Pode ser que aprendam a iniciação das leis da
física por meio do discurso do professor e memorizem tudo como se
tivessem um computador na cabeça. Outras pessoas podem passar anos
tentando ser exímios em determinada arte, tentando estudar
cartesianamente as metodologias prontas de quaisquer coisas, quando
tudo o que precisavam era questionar os porquês que estavam por
detrás dos fenômenos (epistemologia), então o aprendizado se
tornaria algo simples e natural. É fácil saber que dentro da
palavra epistemologia, a qual tem sua origem no grego “ἐπιστήμη”
aportuguesado significa desse jeito: episteme = conhecimento, Logos =
estudo, assim, estudo
do conhecimento
ou teoria
do conhecimento. Há
muitos
tipos de desdobramentos até chegar ao fim desejado.
Tem
muitas alternativas e caminhos para que eu e você interaja com tudo
o que nos cerca. É algo tão inusitado que algumas vezes esse
caminho é a combinação de dois ou mais modos sugeridos acima. Mas
o que realmente precisa ficar elucidado é que cercear a liberdade de
que uma pessoa fique “amigo” de qualquer forma epistemológica
em toda a sua riqueza, é assassinar génios em potencial. É
deflagrar a falência do futuro; é invadir os espaços invisíveis
criados por Deus e rebelar-se contra a sabedoria armazenada pelos
séculos passados. A epistemologia exercida por cada pessoa é dá
pessoa, e sufocá-la é tirar a oportunidade do ser humano conquistar
o impossível. Fato que é verossímil para qualquer pessoa: alunos,
filhos, pais, empresários, funcionários, artistas, médicos,
intelectuais, os quais livres, frutificam dez por um sua
criatividade. Entenda, epistemologia e seus desdobramentos é apenas
uma entre tantas e tantas outras possibilidades para a aquisição do
conhecimento.
Talvez
a história do sujeito tocar o objeto ou o objeto tocar a percepção
da pessoa, ou ambos se encontrarem, talvez todo esse assunto de
existir diversas maneiras de conhecer as coisas seja algo muito
estranho a você, ou talvez você tenha provas quase inequívocas
de que não é assim e que tudo isso se processe e funcione de uma
outra maneira. Pode ser! Mas também pode ser que seja exatamente as
suas verdades e maneiras epistemológicas subjetivas que faça com
que você leia, enxergue e acredite que as coisas são assim como
você as enxerga, incluindo desacreditar nessa abordagem. Mas é
talvez e só talvez. Mas talvez também isso que eu acabo de dizer
seja o que ocorre subjetivamente comigo e não com você. Nossa, que
mistura para bolo!!! E agora? É a minha ou a sua subjetividade que
impera? Mais do que isso... do que mesmo eu realmente estou falando?
Vou tentar me explicar. Talvez você não abra a percepção a essas
possibilidades em função dos seus Princípios de Verdade, quem
sabe! Quem sabe seja por causa dos seus Pré-Juízos. Sabe o que são
essas coisas, 'Princípios de Verdade', 'Pré-Juízos' escritos bem
assim desse jeito? Mas também talvez eles sejam meus e não seus,
talvez por isso você não saiba. Não tanto quanto as nomenclaturas,
mas quanto aos significados.
Esses
questionamentos finais dão margem para especular sobre outros
desdobramentos que não dá para explicar agora, umas tais coisas
chamadas Estrutura de Pensamento e Submodos Informais. Que tal
falarmos um pouco mais sobre tudo isso num outro dia e termos uma
percepção ainda maior?
* Baixe gratuitamente e Leia a obra Filosofia Clínica (propedêutica) do Drº. Lúcio Packter, em: http://www.luciopackter.com.br/ ou http://anfic.org/
Como sempre, um afetuoso abraço!
Wilson
Barbosa
Filósofo Clínico
Técnico em Assuntos Educacionais
IFTO - Instituto Federal do Tocantins
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Campus Porto Nacional -
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