FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO
INCLUSIVA
PARTE I
Caros
Leitores, esse texto é um artigo de opinião, uma adaptação de postagem em fórum
do curso de extensão em Educação Inclusiva na modalidade EAD, oferecido pelo
IFB- Instituto Federal de Brasília. Dado à importância e relevância social do
tema, julgamos pertinente levá-lo aos leitores do Blog como produto de reflexão
e debate com vistas a colaborar à ampla divulgação das complexidades e acertos
relativos à Educação Especial. Com exceção de Ludwig Wittgenstein, os autores e respectivas bibliografias
foram disponibilizados na plataforma de ensino do curso.
O Autor.
Entre as referências
que fazem menção direta ou indireta a Educação Inclusiva, destaco o artigo
“Alteridade”, brilhantemente explanado por Frei Betto[1].
Em se tratando de Alteridade, em sentido amplo, é o ato de colocar-se no lugar do outro considerando todas as
delimitações e limitações daquele a que recebo em minha percepção de mundo com atenção
e respeito. Na prática, o
exercício da Alteridade em sua essência demanda
muito esforço e desprendimento, um constante exercício intelectivo.
Não obstante, a
observação feita pelo autor ao mencionar em seu artigo o Q.E, (Quociente
Emocional) como instrumento de avaliação e conhecimento do modo de
funcionamento da Estrutura de Pensamento da pessoa, retrata a delicadeza,
importância e a necessidade da construção do processo da Alteridade.
Em Dezembro de 2010
publiquei um artigo no Blog intitulado “A Relação Interpessoal na EAD” onde
há uma explanação mais aprofundada do conceito e dos movimentos implícitos na
Alteridade. Por também ser menção direta ao conceito, proponho ao leitor uma
nova visita a este artigo.
Nas palavras de Frei
Betto, Alteridade é a possibilidade de sermos capazes de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos
e, sobretudo, da sua Diferença. Assim, quando conseguimos romper as fronteiras
do eu permitindo a abertura de
um espaço ao outro, torna-se
mais fácil, especificamente em educação, romper com a estrutura colonialista da
supremacia educacional que forja a exclusividade do saber centrada no professor.
De outro lado, rompe com pré-conceitos ultrapassados de que trabalhadores das
áreas conhecidas por não eruditas (informais) nada têm a ensinar àqueles que
foram privilegiados com estudos diplomados (formais).
No artigo de Tomaz Tadeu da Silva[2]
A Produção Social da Identidade e da
Diferença, traz um conteúdo sapiente ao demonstrar que Diferença e
Identidade, na perspectiva adotada no exercício da linguagem, simplesmente
existem e co-existem em mútua dependência: afirmativas x negativas.
Talvez a problemática
que possa surgir do processo lingüístico que sustenta o sentido dessas palavras
de Tomaz Tadeu, esteja linkado à
concepção da idéia de meio social na qual elas são expressas, derivando,
portanto, do modo cultural de um povo. Nessa discussão, Tadeu cita o autor Jacques
Derrida, filósofo francês, o qual propõe em termos de entendimento que a
linguagem humana, vacila.
Compreendida a idéia de
entendimento da linguagem em Derrida, convém também mencionar Wittgenstein, filósofo
austríaco, autoridade em linguagem e protagonizador da mudança radical na
lingüística da Filosofia do século XX. Wittgenstein demonstra que os signos de
modo geral, flutuam sob um processo de abstração, assim, a linguagem tem
presente em todos os seus momentos a sua inefabilidade semântica. Por isso a
promessa da presença é parte integrante da idéia de signo.
Na prática, toda essa
discussão teórica leva a um ponto prático muito importante. Através da
Identidade x Diferença, delimita-se territórios, criam fronteiras, aceita e
separa situações e/ou pessoas, cristalizam verdades e excluem outras. Embora
todo esse processo esteja constantemente em devir- vir a ser, o que sugere instabilidade e mutação, faz também com que
o processo se auto renove infinitamente e se auto prevaleça enquanto mecanismo
de equilíbrio nas relações sociais, muito embora se torne paralelamente, um
mecanismo indubitavelmente temeroso, se considerado a força de segregação em potencial, mesmo que seja uma
segregação embutida em elementos periféricos, incompreensíveis e, às vezes, subliminares.
Na pedagogia, a
problemática da Identidade e Diferença pode remeter a um fenômeno já conhecido,
mas, embora conhecido, é constituído de várias facetas: a principal delas é a
Pedagogia Oculta, pois, é precipuamente no espaço escolar em que as crianças e
jovens tomam contato com as Diferenças
e as Identidades. Por um lado, há um
estímulo a que essas crianças entendam e aceitem o diferente, e por outro lado,
há um mecanismo de segregação. Vejamos um exemplo: quando a criança não mantém
um comportamento padrão em sala de aula; quando a criança aos olhos do
professorado é um aluno indisciplinado, implica como resultado que ao mesmo
tempo em que essa criança é estimulada a aceitar a Diferença; a própria Diferença
nela apresentada (comportamental) não
é aceita pelo professor. Há aí um paradoxo conceitual e prático que, a meu ver,
deve tornar-se objeto de discussão entre pedagogos a fim de que se encontre um meio
termo. Se precisar, releia o exemplo e fomente uma crítica conceitual sob a
situação.
Dado à complexidade e
extensão para exprimir as idéias com o mínimo necessário de fundamentação
teórica, haverá, excepcionalmente para esse tema, uma sequência com post ainda
este mês.
E você, tem rompido
fronteiras e pré-conceitos ultrapassados?
Por hora vou até aqui.
Até a próxima!
Wilson Barbosa
-Filósofo
Clínico
-Técnico
em Assuntos Educacionais
IFTO – Instituto Federal do Tocantins
Campus Porto Nacional.