segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Por Wilson Barbosa


FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

PARTE I
Caros Leitores, esse texto é um artigo de opinião, uma adaptação de postagem em fórum do curso de extensão em Educação Inclusiva na modalidade EAD, oferecido pelo IFB- Instituto Federal de Brasília. Dado à importância e relevância social do tema, julgamos pertinente levá-lo aos leitores do Blog como produto de reflexão e debate com vistas a colaborar à ampla divulgação das complexidades e acertos relativos à Educação Especial. Com exceção de Ludwig Wittgenstein, os autores e respectivas bibliografias foram disponibilizados na plataforma de ensino do curso.

O Autor.

Entre as referências que fazem menção direta ou indireta a Educação Inclusiva, destaco o artigo “Alteridade”, brilhantemente explanado por Frei Betto[1]. Em se tratando de Alteridade, em sentido amplo, é o ato de colocar-se no lugar do outro considerando todas as delimitações e limitações daquele a que recebo em minha percepção de mundo com atenção e respeito. Na prática, o exercício da Alteridade em sua essência demanda muito esforço e desprendimento, um constante exercício intelectivo.

Não obstante, a observação feita pelo autor ao mencionar em seu artigo o Q.E, (Quociente Emocional) como instrumento de avaliação e conhecimento do modo de funcionamento da Estrutura de Pensamento da pessoa, retrata a delicadeza, importância e a necessidade da construção do processo da Alteridade.

Em Dezembro de 2010 publiquei um artigo no Blog intitulado “A Relação Interpessoal na EAD” onde há uma explanação mais aprofundada do conceito e dos movimentos implícitos na Alteridade. Por também ser menção direta ao conceito, proponho ao leitor uma nova visita a este artigo.

Nas palavras de Frei Betto,  Alteridade é a possibilidade de sermos capazes de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua Diferença. Assim, quando conseguimos romper as fronteiras do eu permitindo a abertura de um espaço ao outro, torna-se mais fácil, especificamente em educação, romper com a estrutura colonialista da supremacia educacional que forja a exclusividade do saber centrada no professor. De outro lado, rompe com pré-conceitos ultrapassados de que trabalhadores das áreas conhecidas por não eruditas (informais) nada têm a ensinar àqueles que foram privilegiados com estudos diplomados (formais).

 No artigo de Tomaz Tadeu da Silva[2] A Produção Social da Identidade e da Diferença, traz um conteúdo sapiente ao demonstrar que Diferença e Identidade, na perspectiva adotada no exercício da linguagem, simplesmente existem e co-existem em mútua dependência: afirmativas x negativas.

Talvez a problemática que possa surgir do processo lingüístico que sustenta o sentido dessas palavras de Tomaz Tadeu, esteja linkado à concepção da idéia de meio social na qual elas são expressas, derivando, portanto, do modo cultural de um povo. Nessa discussão, Tadeu cita o autor Jacques Derrida, filósofo francês, o qual propõe em termos de entendimento que a linguagem humana, vacila.

Compreendida a idéia de entendimento da linguagem em Derrida, convém também mencionar Wittgenstein, filósofo austríaco, autoridade em linguagem e protagonizador da mudança radical na lingüística da Filosofia do século XX. Wittgenstein demonstra que os signos de modo geral, flutuam sob um processo de abstração, assim, a linguagem tem presente em todos os seus momentos a sua inefabilidade semântica. Por isso a promessa da presença é parte integrante da idéia de signo.

Na prática, toda essa discussão teórica leva a um ponto prático muito importante. Através da Identidade x Diferença, delimita-se territórios, criam fronteiras, aceita e separa situações e/ou pessoas, cristalizam verdades e excluem outras. Embora todo esse processo esteja constantemente em devir- vir a ser, o que sugere instabilidade e mutação, faz também com que o processo se auto renove infinitamente e se auto prevaleça enquanto mecanismo de equilíbrio nas relações sociais, muito embora se torne paralelamente, um mecanismo indubitavelmente temeroso, se considerado a força de segregação em potencial, mesmo que seja uma segregação embutida em elementos periféricos, incompreensíveis e, às vezes, subliminares.

Na pedagogia, a problemática da Identidade e Diferença pode remeter a um fenômeno já conhecido, mas, embora conhecido, é constituído de várias facetas: a principal delas é a Pedagogia Oculta, pois, é precipuamente no espaço escolar em que as crianças e jovens tomam contato com as Diferenças e as Identidades. Por um lado, há um estímulo a que essas crianças entendam e aceitem o diferente, e por outro lado, há um mecanismo de segregação. Vejamos um exemplo: quando a criança não mantém um comportamento padrão em sala de aula; quando a criança aos olhos do professorado é um aluno indisciplinado, implica como resultado que ao mesmo tempo em que essa criança é estimulada a aceitar a Diferença; a própria Diferença nela apresentada (comportamental) não é aceita pelo professor. Há aí um paradoxo conceitual e prático que, a meu ver, deve tornar-se objeto de discussão entre pedagogos a fim de que se encontre um meio termo. Se precisar, releia o exemplo e fomente uma crítica conceitual sob a situação.

Dado à complexidade e extensão para exprimir as idéias com o mínimo necessário de fundamentação teórica, haverá, excepcionalmente para esse tema, uma sequência com post ainda este mês.

E você, tem rompido fronteiras e pré-conceitos ultrapassados?

Por hora vou até aqui. Até a próxima!

 Wilson Barbosa

-Filósofo Clínico

-Técnico em Assuntos Educacionais

 IFTO – Instituto Federal do Tocantins

 Campus Porto Nacional.



[1] BETTO, Frei. Alteridade. Disponível em: http://www.adital.com.br/site/noticia2.asp?lang=PT&cod=7063
[2] SILVA, Tomaz Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença. Disponível em: http://ccs.ufpel.edu.br/wp/wp-content/uploads/2011/07/a-producao-social-da-identidade-e-da-diferenca.pdf
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